Não assaltam bancos nem distribuem dinheiro, mas o planeamento meticuloso que colocam em prática é parecido ao de um golpe desse género. Não, não nos estamos a referir a nenhuma nova série influenciada pela já conhecida “La casa de papel”, de Ález Pina.
Ela é auxiliar de saúde, ele gere uma empresa de transportes, mas nos tempos livres são um super casal apaixonado pelo urbex discover. Se ainda não conhece este termo, nós explicamos. Afinal, a tendência veio para ficar e tem cada vez mais adeptos. Desde profissionais a curiosos, são muitos a querer fotografar casas, castelos, palácios, igrejas, fábricas ou escolas do antigamente. O essencial é que esteja abandonado, perdido no tempo, mas intacto. Há exploradores urbanos interessados na vertente histórica, no antigo e abandonado, e para outros a motivação está no risco e na natureza do proibido.
Para Vivien Afonso, de 24 anos, e para o seu namorado Gonçalo Rodrigues, de 23, o que começou por uma simples curiosidade, tornou-se em admiração e respeito pelos espaços que visitam. O que os distingue de outros exploradores urbanos é o recurso inesperado ao uso de uma máscara que lhes esconde a cara. “A ideia surgiu apenas por graça”, começa por contar Vivien à NiT. “Queríamos ter um estilo diferente, mais sombrio”, continua. Com o tempo, o conceito acabou por se tornar uma imagem de marca e nunca mais a largaram.
Fizeram a primeira exploração no dia 11 de julho de 2021. O spot escolhido foi um mosteiro abandonado. Onde fica não sabemos. A chave do urbex é manter as localizações em segredo, como forma de prevenir possíveis vandalismos e manter os espaços intactos e perdidos, quase como se estivessem parados no tempo. Conseguimos, porém, perceber que foi num local sem povoações nas redondezas e sem rede telefónica que os dois arriscaram fazer a primeira aventura. Começaram, primeiro, por utilizar um drone para descobrir o caminho mais fácil e lá foram eles. A primeira experiência nunca se esquece e esta foi decisiva: “ficámos encantados com o que vimos e a partir daí nunca mais parámos”, confessa.
Vivien partilha na sua página de Instagram as fotografias que tiram nos sítios mais inusitados. Mágicos, mas insólitos e até inquietantes. Por mais corajosos que sejam, a adrenalina está constantemente “à flor da pele” e não são imunes aos saltos mais inesperados: “alguns animais, especialmente os pombos, são os grandes causadores de alguns sustos”, diz-nos. Em alguns dos lugares também encontram sem-abrigos. Aventureira e com uma paixão pelas viagens, Vivien explica-nos que a escolha dos spots é feita de forma racional e planeada. Primeiro é feita uma extensa pesquisa na web e depois analisam as distâncias para concluir se vale a pena ou não explorá-los. “Tentamos escolher sempre locais que fiquem a caminho uns dos outros e ao regressar a casa igualmente, de maneira e não fazemos desvios desnecessários”. São do Seixal, mas já acumulam visitas a locais por todo o País.
A verdade é que os dois têm profissões que ocupam grande parte do tempo, logo, quando podem partir para a aventura têm de ser eficientes e passar pelo máximo de sítios que conseguirem. Nesta etapa, também a escolha do alojamento importa. “Sempre que fazemos uma viagem, durante dois ou três dias, temos sempre em conta o hotel em que ficamos”, diz. “É muito importante que fique perto dos locais que queremos visitar, ou a caminho”. Tudo é pensado ao pormenor e nesse planeamento conta também o preço. Sozinhos ou acompanhados por outros exploradores, acabam por optar pelos alojamentos mais baratos e fazer refeições de sandes. Uma viagem destas ronda pode rondar os 300 ou 400€, com tudo incluído.
Baterias da máquina fotográfica, focos de luz e lanternas, tripé, e não esquecendo as indispensáveis máscaras, o carro é carregado no dia anterior da viagem. Seguindo caminho, é frequente passarem por edifícios aparentemente abandonados e Vivien e Gonçalo não perdem a oportunidade de explorá-los. “Alguns sítios com sucesso, outros não. Alguns sítios incríveis, outros nem tanto, mas cada local tem a sua magia”. Todos os lugares são diferentes, mas não conseguem escolher um favorito: “temos é lugares pelos quais sentimos um carinho especial”. Num futuro deixam a promessa de continuarem a partilhar imagens impressionantes nas suas redes sociais que, juntas, já somam mais de 20 mil seguidores.
Carregue na galeria para ver alguns dos sítios mais inusitados que Vivien e Gonçalo visitaram.