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Jéssica Xaveiro: quem é a voz que virou as quatro cadeiras e arrebatou Sónia Tavares

No "The Voice Portugal", a cantora seixalense mostrou que o talento e a emoção continuam a ser a melhor combinação.

Desde pequena que a música faz parte da vida de Jéssica Xaveiro. A família não contém o riso ao recordar quando, com um desodorizante na mão, transformava o seu espaço num palco. “Sempre que tocava uma música da Floribella ou dos Rebelde Way, lá estava eu a cantar, como se estivesse num concerto”, recorda. 

O gosto pela música nasceu naturalmente, entre vozes e melodias que ecoavam dentro de casa. A avó Lídia, hoje com 62 anos, foi uma das suas grandes inspirações. “Diz que já não consegue cantar por causa da idade, mas foi com ela que aprendi tudo. Íamos juntas aos karaokes, cantávamos músicas da Ágata ou da Maria João, sempre aquelas mais românticas”, partilha com a New in Seixal.

O talento e a vontade de cantar nunca se perderam, mesmo quando a vida levou Jéssica para longe. Aos 12 anos, mudou-se com a mãe para Inglaterra, em busca de um futuro melhor. Cresceu em Londres, estudou, trabalhou e formou-se em Administração de Negócios pela City of Westminster College. Ainda assim, a música nunca deixou de ser a sua verdadeira paixão.

“A minha mãe queria que tivesse um emprego estável, algo mais seguro. Mas aproveitava todas as oportunidades para cantar, era o meu escape.” Foi por essa altura que começou a inspirar-se em artistas como Adele e Lady Gaga. Depois de vários anos em Inglaterra, regressou a Portugal, em 2017, mas o destino levou-a de volta a Londres, pouco tempo depois.

Entre idas e voltas, encontrou o amor e a sua maior motivação: a filha Naomi, hoje com sete anos. Em 2021, decidiu regressar definitivamente a Portugal e fixou-se no concelho do Seixal. Antes de se dedicar por completo à música, trabalhou em restauração, em lojas de maquilhagem e retalho. “Sempre gostei de lidar com pessoas, mas a música estava sempre a chamar por mim.”

Em Inglaterra, chegou a participar em concursos de canto e recorda com orgulho quando ficou em segundo lugar a interpretar “This Is Me”, do filme “Camp Rock”. Apesar de nunca ter tido aulas de canto, Jéssica aprendeu tudo de forma natural. Em dezembro de 2021 conheceu Charmila, a atual esposa, que se tornou também a sua parceira profissional e gestora de carreira.

“Ela é o meu pilar. Trata das marcações, das contratações e ajuda-me em tudo.” Foi também com o apoio da esposa que decidiu criar o seu projeto a solo, depois de uma experiência em dupla sertaneja, que começou em Londres e terminou em Portugal. 

“Chegámos a fazer espetáculos em Lisboa e na Margem Sul, mas não estava a correr bem. Hoje sigo sozinha, com o meu tributo à Marília Mendonça. Foi com esse projeto que comecei finalmente a viver da música.”

O salto para o “The Voice Portugal”

Participar no programa foi o passo que lhe faltava. “Foi o meu agente que me incentivou. Disse-me: ‘vais parar tudo e inscrever-te’, algo que a minha parceira também já me tinha dito. Acabei por enviar um vídeo curto a cantar Rita Guerra e, depois de alguns castings, fui chamada.”

O momento em palco foi intenso. “Estive nervosa o dia todo. Fui a última a atuar, já passava da meia-noite. Quando comecei a cantar, fechei os olhos e nem me lembro de nada. Só senti.” A música escolhida foi uma homenagem à avó, com quem começou a cantar, e a emoção tomou conta do estúdio. Quando terminou, percebeu o que tinha acontecido: as quatro cadeiras estavam viradas.

“Nem vi nada. Só depois, quando revi a atuação, percebi que tinha as quatro cadeiras viradas e ainda o bloqueio da Sónia Tavares. Fiquei em choque.” A escolha não foi fácil, já que admira todos os mentores. “Gosto muito da Sara, dos Calema, e o Fernando Daniel é um artista que me inspira muito. Mas a Sónia tem uma bagagem incrível e uma história de superação que me toca.”

Desde então, a experiência no The Voice Portugal tem sido transformadora. “Aprendi a ter mais confiança em mim, mais segurança no que faço. É engraçado porque, lá dentro, esquecemo-nos de que é uma competição. Há um espírito de união, de partilha, é bonito ver como todos vibram com o sucesso dos outros.” 

Mesmo com o reconhecimento e os elogios, admite sentir alguma pressão para o que vem a seguir. “Sinto que agora tenho de ser melhor. Há sempre aquele medo das comparações com a prova cega, mas encaro tudo como um desafio positivo.” Se pudesse deixar uma mensagem à sua versão mais nova, Jéssica seria direta: “Não deixes que ninguém te faça duvidar do teu caminho. Continua, porque vai valer a pena.”

Entre ensaios no “The Voice Portugal”, concertos e o papel de mãe, Jéssica vai equilibrando tudo com o mesmo amor com que canta. Quando fala do futuro, o brilho no olhar é evidente e quando questionada sobre uma possível colaboração, diz que “gostava de fazer um dueto com o Fernando Daniel. Acho que as nossas vozes iriam encaixar bem, ele tem uma entrega que admiro muito.”

Hoje, mais do que nunca, Jéssica sente que está exatamente onde devia estar. Depois de tantos regressos, de tantos recomeços, a música tornou-se o seu lar. E vai poder acompanhar a sua jornada no “The Voice Portugal”, todos os domingos na RTP 1.

A concorrente seixalense.

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