Não se encontram todos os dias ao virar da esquina e, muito menos, no meio das ruas. E, se assim acontecesse, certamente não passariam despercebidos. É que os gatos Sphynx são conhecidos por dividir opiniões graças ao seu aspeto físico. Habitualmente, estes felinos são apelidá-los de “gatos feios”.
A quase inexistência de pelo, os olhos grandes e as orelhas bicudas são as caraterísticas que contribuem para que a grande maioria das pessoas não simpatize com a raça. Mas será que se resumem inteiramente a isso? A NiS dá-lhe a resposta.
Com a ajuda de Raquel Veiga, uma jovem criadora seixalense de 28 anos, fomos conhecer estes gatos que, por norma, não costumam estar ao alcance de qualquer pessoa. Essa poderá ser uma das justificações que leva a população no geral a não se identificar com os Sphynx. Porém, saiba que eles são animais diferenciados e garantimos que não é apenas por terem um aspeto diferente dos gatos que estamos habituados a ver.
“A personalidade deles é mais cão do que gato. Ou seja, é um animal que se lhe dermos amor e não houver qualquer tipo de violência, não arranha; não morde; é capaz de esperar à porta quando o dono chega; sente tanta saudade como um cão; está sempre coladinho ao dono; quer atenção; quer brincar”, começa por explicar a criadora da raça à New in Seixal.
Apesar de atualmente já existir mais alguma informação sobre o comportamento destes animais, a verdade é que a maior parte do que é divulgado foca-se muito no aspeto exterior destes gatos. Por isso, tudo aquilo que Raquel vai observando e experienciando torna-se parte integrante do seu conhecimento sobre a raça em si.
Por exemplo, a criadora tem por hábito dizer que estes gatos são terapêuticos. “Normalmente dizem que os animais pressentem quando nós estamos doentes e os Sphynx comprovam, sem dúvida, essa tese. Tenho um problema de estômago e sempre que tenho uma crise eles deitam-se na zona afetada — a temperatura deles está cerca de quatro graus acima de um gato comum — e ficam ali até me sentir melhor”, conta.

Além disso estes gatos são super inteligentes. “Na verdade, considero que eles governam o mundo e só nos tratam assim que é para a gente lhes dar comida e água e limpar-lhes a caixa da areia”, diz Raquel à NiS em jeito de brincadeira. É que segundo ela, um dos seus gatos, o Abba, está habituado desde pequenino a sentar-se à mesa na hora das refeições com toda a família. Só que no início tinha o hábito de perder a postura numa das patas e devagarinho tocava numa ou outra comida para ver se tinha sorte.
“Logo no início dizia-lhe: ‘não podes mexer, porque não lavaste as patas’. Isto parece mentira, mas os miúdos a partir de então começaram por brincadeira (e de vez em quando) a lavar-lhe as patas para ele poder mexer. Resultado: o Abba acabou por associar esse gesto e desde então lava sempre as patas na tigela antes de beber água”, revela a criadora.
Porém, existem mais provas de que os Sphynx são mesmo animais inteligentes. Outro exemplo aconteceu há poucos dias e diz respeito ao facto de estes gatos serem verdadeiramente curiosos. Segundo Raquel, na sua casa existe um carrinho alto de rodinhas, onde são colocadas várias tralhas logo à entrada. Depois de Raquel ter tirado o carrinho do sítio para limpar, o Willow levantou-se em duas patas e empurrou o carrinho para o sítio certo e foi-se embora.
“Ele fez isso porque sabia que aquilo era diferente ou que, pelo menos, não estava no sítio habitual. Eles são sempre tão inteligentes e tão surpreendentes que nós aprendemos coisas todos os dias”, esclarece. “Depois adoram explorar. Se veem algo novo vão querer ver, saber o que é, mexer. Brincar também está no topo da lista de coisas que mais gostam de fazer e como gatos que são passam também várias horas a dormir”.
A paixão pelos Sphynx, as rotinas no Hairless Happiness e os cuidados com a raça
Raquel tinha cerca de 15 anos quando começou a ficar completamente apaixonada pelos Sphynx. Na altura, era de tal forma obcecada que lia tudo sobre a temática e queria sempre saber mais e mais sobre estes gatos atípicos. “Meti na cabeça que havia de ter um e tinha de consegui-lo”, explicou à NiS.
Depois de oito anos a juntar dinheiro, a jovem conseguiu em 2019 finalmente concretizar o seu grande sonho. Falou com diversos criadores, em Portugal e no estrangeiro, e encontrou em 2019 o Abba, o primeiro gato da casa e o primeiro amor da sua vida, como Raquel o descreve.
“Antes de ir buscar o Abba, falei com o meu marido e depois com a minha mãe. Ela respondeu-me logo: ‘Deus me livre se tu vais ter uma coisa dessas. Eu nunca vou tocar neles, que horror, que coisa mais feia’. Disse-lhe para ela não falar assim e que a conversa tinha acabado. ‘Não queres ver não vens à minha casa, não me visitas”, recorda.
A verdade é que o Abba conquistou o coração de toda a família. A mãe de Raquel, Fernanda Veiga, que agora também é responsável pelo Hairless Hapiness, tem neste momento seis gatos desta raça na sua casa.
Atualmente vivem no espaço oito gatos Sphynx: as fêmeas Adda, Maeve, Chell, Maya, Holly e a Jade e os machos Abbadon e Willow Be. Há animais do Algarve, de Sevilha, de Barcelona, Málaga e ainda algumas gatinhas madrilenas. Vivem em duas casas separadas, uma para as fêmeas e outra para os machos. Ainda assim, juntam-se várias vezes durante a semana e no fim de semana para manter o afeto e a socialização.
Quanto a rotinas, não existe uma propriamente definida já que os criadores têm a sua própria vida, sobretudo ocupada entre trabalho e os miúdos. Pelo contrário, são os gatinhos que se adaptam à vida dos donos e a qualquer tipo de ambiente. “Costumamos passear com eles. No outro dia, por exemplo, fomos ao McDonald’s jantar com eles. Também vamos à praia, ao parque. Eles passeiam muito bem de trela, vestem roupinhas. Desde que sejam habituados desde pequeninos, está tudo bem”, revela Raquel.
No meio disto, contudo, é importante seguir a rigor os cuidados de alimentação e higiene. “O metabolismo deles é muito mais rápido e a comida que eles precisam tem de ser com muito mais proteína e, de preferência, sem cereais. Comem ração, mas eles precisam também de comer comida húmida, seja paté ou frango cozido, para manter a pele saudável e hidratada”, refere a jovem seixalense, acrescentando que se não se mantiverem hidratados podem desenvolver problemas de acne como os humanos.
Os banhos são dados mas não em imersão. No Hairless Happiness é colocado um toalhão encharcado no chão com o animal em cima dele. Depois de ensaboado, passa-se com uma jarrinha de água por cima. É importante ainda ter vários cuidados ao longo do dia como a limpeza dos olhos e das orelhas. Os primeiros têm tendência a ganhar umas remelas avermelhadas, que são mais ácidas e que até parece que os está a fazer chorar sangue; já as orelhas têm tendência a acumular cera pelo simples facto de não terem pelo. É uma forma de proteção, digamos assim.
Criação certificada dos Sphynx no Seixal
Em Portugal tem vindo a aumentar cada vez mais o número de criadores desta raça. No entanto, muitos deles continuam ainda sem qualquer tipo de certificação, o que pode resultar em alguns problemas. Contudo, esse está longe de ser um problema do projeto de criação seixalense de Sphynx, Hairless Happiness.
Atualmente, todos os gatos precisam de ter toda a documentação deles. O LOP, que significa Livro de Origens Português, é um dos registos mais importantes uma vez que segue toda a linhagem do animal, até aos bisavós e em certos casos até ao trisavós. Em comparação com os cães, é uma espécie de pedigree, só que dos gatos. O documento é emitido pelo Clube Português de Felinicultura que atesta a pureza da raça, a sua origem bem como a sua genealogia.
No ato da criação, há um detalhe a ter em atenção: não pode haver consanguinidade do sangue. Tendo isso assegurado, é escolhido o casal. São feitos os devidos exames, idas ao veterinário, e depois de tudo muito bem preparado e planeado, avança o processo. Acontece sempre quando a gata estiver na época do cio.
Depois do acasalamento, são cerca de dois meses, isto é, 60 dias, para os gatinhos bebés estarem cá fora. Por norma, nascem entre dois e oito. As mamãs mais novas têm tendência para terem ninhadas mais pequenas, mas isso não é uma regra inquebrável. Na verdade, varia sempre. Essa mesma fêmea terá de esperar no mínimo um ano e meio para voltar a ser mãe. “Não sobrecarregamos as nossas gatas”, garante Raquel em conversa com a NiS.
O que acontece com bastante regularidade é que mal cada gatinho bebé cumpra os seus três, quatro meses, está pronto para conhecer os novos donos e a sua nova casa. “Há sempre saída e sempre procura pelos gatinhos. A verdade é que quando a gata mãe pare todos os bebés já tem os seus destinos”, partilha a seixalense. De qualquer das formas, é sempre divulgado na página do Instagram do Hairless Happiness a confirmação oficial de que há uma gravidez e são publicadas, no geral, fotografias dos gatos que serão pais.
É habitual também receber neste spot seixalense dedicado à criação de Sphynx todos os futuros donos que estão interessados nas ninhadas. “Preferimos que as pessoas venham cá e possam conhecer tanto o macho como a fêmea e até mesmo o ambiente onde são criados”, refere Raquel Veiga, deixando, no entanto, uma certeza: “Eles saem daqui com uma socialização muito forte. É que nós temos um outro gato adotado, bem mais velho, um cocker e um porquinho-da-índia. Ou seja eles saem daqui já com a socialização toda, tanto com outros animais como com caras novas, crianças, e por aí. Estão super habituados.”
Este ano, o Willow vai cruzar com a Holly. Depois a próxima mamã será provavelmente a Adda, que já vai ter uns dois anos na altura, que vai juntar-se com o Abba. Esta será a ninhada dos gatinhos cinzentos. Depois, com o descanso obrigatório de cada gata, os criadores vai gerindo. É importante que saiba que apesar de as gatas não se poderem repetir, os pais podem. Isto se não tiverem os mesmos traços de sangue.
Tipos de pele da raça dos chamados “gatos feios”
No Hairless Happiness existem gatos com várias cores e que vão para além do típico padrão liso. Em relação à pele, neste espaço no Seixal pode encontrar gatos com pele de pêssego e com pele borracha.
Outro detalhe importante é o facto de estes serem gatos que não são totalmente ausentes de pelo. Ainda no tipo de pele de pêssego, há gatos Sphynx que têm pelos caraterísticos na cauda, nas patas e nas orelhas, que nunca caem. Contudo, existem ainda os que, como o Willow Be, desaparecem ao longo do verão e crescem ao longo do inverno. Nestes casos, se a estação for muito rigorosa, também surgem alguns pelinhos na zona do lombo do gato.
Os preços dos Sphynx e a participação em competições
Atribuir um preço a um gato não é tarefa fácil. Neste caso varia entre os 1000€ e os 1300€. Vai depender sempre da sua linhagem e de todas as despesas de saúde que os criadores tiveram até à altura. O facto de serem premiados (ou não) em competições também pode fazer oscilar o preço. Em relação a isso, os gatos do Hairless Happiness vão apresentar-se pela primeira vez em competição, nos dias 21 e 22 de maio, no PET FESTIVAL, na FIL, em Lisboa.
“Nós ainda não participámos vez nenhuma porque veio a pandemia e depois porque existem concursos que stressam muito os animais. Então, quando nós achamos que as condições, seja por que motivo for, não são favoráveis ou que eles se vão chatear ou algo do género, não vão porque não paga o sofrimento dos animais. Desta vez temos tudo certinho e eles também estão bem preparados”, confidenciou Raquel.
No concurso será avaliado o peso, a postura, a beleza e os traços físicos dos felinos. É importante que o animal tenha, por exemplo, o pelinho e as manchinhas no lugar certo. Apesar disso, atualmente, todos os padrões de Sphynx são aceites pelo Clube Português de Felinicultura.
De seguida carregue na galeria para conhecer os gatos Sphynx do Hairless Happiness.