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Escritor seixalense sobreviveu a uma granada na Guerra Colonial — e conta tudo no novo livro

Eduardo Palaio estreou-se na literatura em 1980. Em 2010, foi galardoado com o Prémio Nacional do Conto Manuel da Fonseca.
O seixalense tem 82 anos.

Em 1963, Eduardo Palaio, natural do Seixal, foi mais um dos milhares de jovens chamados para participar na Guerra Colonial. Tinha apenas 21 anos. Fez a recruta e especializou-se como atirador, ou seja, pertencia à Infantaria, que combatia a pé, no terreno.

Destacado para Angola, fazia parte de um batalhão de 80 homens. Apesar de serem um grupo grande, não os impediu que fossem emboscados durante a noite. Estavam 10 homens a fazer a vigilância, enquanto os restantes dormiam. Durante a madrugada, foram atacados por morteiros.

“Na altura, as guerrilhas africanas tinham muitas novidades. Lembro-me de acordar em sobressalto e ver as balas tracejantes, um tipo de munição que deixa um rastro de luz por onde passa, à altura da minha cintura. O objetivo era causar o terror. Não me podia levantar ou seria atingido, mas se ficasse parado também não tinha grandes chances”, conta Eduardo à New in Seixal.

Decidiu ficar quieto, enquanto um mar de balas e luzes atravessavam o acampamento. Eduardo acabou mesmo por ser ferido em combate, mas sobreviveu. Uma granada de fragmentação explodiu e os destroços voaram contra a coxa direita do, então, jovem. O seixalense era obrigado a manter-se por lá, destacado, durante dois anos, mas acabou por ficar quatro.

Durante esse tempo viu todo o tipo de atrocidades de guerra. Homicídios, exploração e atos de revolução, são memórias que nunca esqueceu e sentimentos que o sobressaltam até hoje. São também histórias e lembranças que dão forma ao livro “Nobres Povo ou o Magnífico Pelotão Chamado Que Es Adof”, a sua mais recente obra, que será lançada no dia 15 de dezembro. 

“Hoje, felizmente, não há serviço militar obrigatório. Lanço este livro porque acho necessário dar o meu testemunho, dizer aquilo que vi, mas também de dar a conhecer o choque cultural que tive. Um clima, uma cultura e um povo totalmente diferente”, garante. 

“Esta é a história do pelotão alcunhado de ‘Que Es Adof’ e do seu comandante Joaquim Ferro. Muitas vezes o narrador intercala na narrativa escritos retirados do ‘Diário’ do protagonista e também acrescenta outras páginas que são mensagens de aerogramas. A história não segue um percurso respeitador da cronologia, mas o seu começo e o seu fim estão na ordem certa”, refere a sinopse. 

Quando voltou para o Seixal, no final da década de 60, dedicou-se ao combate contra o regime fascista e ditatorial que Portugal vivia na altura. Participou em diversas iniciativas, inclusive culturais, como o caso da passagem de filmes proibidos pelo Governo em cineclubes do Seixal.

Eduardo Palaio nasceu na casa da mãe, na zona do Largo da Igreja do Seixal. Depois de vir da guerra, sempre fez a sua vida no concelho natal. Hoje, com 82 anos, vive no Bairro Novo do Seixal.

A veia literária não é nova. Estreou-se na literatura em 1980. Em 2010, foi galardoado com o Prémio Nacional do Conto Manuel da Fonseca e, em 2011, recebeu o Grande Prémio de Conto Camilo Castelo Branco da Associação Portuguesa de Escritores. Conta já com seis livros publicados. Trabalha ainda como muralista, cartoonista e pintor.

A nova obra, “Nobres Povo ou o Magnífico Pelotão Chamado Que Es Adof”, será lançada no dia 15 de dezembro, sábado, na Biblioteca Municipal do Seixal. O evento está aberto ao público, a partir das 15h30. O livro, com cerca de 200 páginas, será publicado pela Colibri. Não se encontra em pré-venda e, até à data da publicação deste artigo, ainda não foram revelados preços.

Eduardo tem o objetivo de lançar ainda mais dois livros. Pode ser encontrado, com regularidade, nas visitas à Tipografia do Seixal.

 

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