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Afinal, o que se passa com os navios elétricos da Transtejo?

Operação arrancou no dia 16 de setembro de 2024. Porém, em outubro, foram suprimidas 89 carreiras fluviais.
Nova frota deverá estar a funcionar em 2025.

Desde 2018 que a aquisição de novas embarcações para a frota da Transtejo está em cima da mesa. Nesse ano, o plano era adicionar dez barcos, com o pretexto de que os veículos em funcionamento já tinham uma “idade avançada” para cumprir o grande número de viagens entre as margens do rio Tejo. Estas novas embarcações deveriam chegar entre 2020, 2021 e 2022, com a promessa de melhorar as ligações entre Seixal, Montijo, Cacilhas e Trafaria com a capital, Lisboa.

Os anos foram passando e, entre greves dos funcionários e a pandemia de Covid-19, o projeto de renovação acabou por se atrasar. Em 2022, torna-se público que as novas embarcações serão todas elétricas e que serão provenientes dos estaleiros espanhóis de Gondán. O cenário era animador e o investimento global de 70 milhões de euros já tinha sido aprovado pelo Conselho de Ministros. Dentro deste montante, estavam disponíveis 29 milhões de euros para a manutenção da nova rota até 2036.

Com os barcos em vista e a luz verde para o investimento, esperava-se que o projeto arrancasse em 2022, tal como prometido, situação que não se verificou. Antes mesmo do primeiro barco elétrico chegar, a Transtejo subiu o preço de todos os bilhetes no dia 1 de janeiro de 2023. Este aumento, realizado pela maioria das empresas a nível mundial devido à inflação, atingiu todas as carreiras.

Nas ligações entre Barreiro — Terreiro do Paço e Seixal — Cais do Sodré, em vez dos 2,50€, os passageiros teriam de pagar 2,65€ pelo bilhete simples. No caso da ligação entre Cacilhas e Cais do Sodré, o aumento foi de 10 cêntimos (passando de 1,30€ para 1,40€), enquanto que o percurso Trafaria—Porto Brandão—Belém teve uma subida de 5 cêntimos, passando de 1,25€ para 1,30€. Em relação aos passes mensais, os valores mantiveram-se inalterados.

Só em 2023 é que os planos da nova frota começaram a ganhar forma. Em março, a primeira embarcação chega a Lisboa e é nomeada “Garça-Branca”, em homenagem à ave autóctone característica do estuário do Tejo. Nessa altura, a Transtejo, em declarações à TVI, revelou que o navio já deveria “começar a funcionar durante o segundo semestre de 2023”.

Assim começaram os preparativos. As tripulações entraram em formações e o posto de carregamento de baterias foi estabelecido em Cacilhas. No dia 19 de março começou a novela. Segundo o Tribunal de Contas, seria necessário efetivar um “contrato adicional de 15,5 milhões de euros para a compra de nove baterias”, ou seja, apenas um dos barcos adquiridos vinha com bateria para andar.

“A Transtejo comprou um navio completo e nove navios incompletos, sem poderem funcionar, porque não estavam dotados de baterias necessárias para o efeito”, refere o TDC, citado pelo “Expresso”. “O mesmo seria, com as devidas adaptações, comprar um automóvel sem motor, uma moto sem rodas ou uma bicicleta sem pedais, reservando-se para um procedimento posterior a sua aquisição”.

Para piorar, o “Graça-Branca” veio com danos no casco e teve de ser reparado. Segundo fonte oficial da empresa, os danos sofridos terão ocorrido durante a viagem, devido às más condições de transporte. Sem especificar a gravidade dos estragos, a Transtejo adiantou que a responsabilidade de avaliação de danos e da sua reparação “pertencia aos Astilleros Gondán”, o fabricante espanhol que fretou o transporte. Apesar dos contratempos, a 28 de novembro de 2023, realizou-se a viagem inaugural.

Passados dois meses, no dia 29 de janeiro de 2024, chegam mais duas embarcações elétricas a Lisboa, o “Garça-Vermelha” e “Flamingo-Rosa”. O “Ibis-Preto” atracou a 21 de abril e, a 4 de junho, foi a vez do “Tarambola-Dourada”. A expectativa é a de que este ano (2024), sejam entregues mais dois e os três restantes em 2025.

Embora a empresa de transportes tenha dito que o funcionamento da frota começava em abril, o arranque foi adiado para julho. Na origem do atraso, esteve a demora nos trabalhos de instalação do posto de carregamento no Terminal Fluvial do Seixal.

“O projeto tecnológico totalmente inovador e pioneiro está sujeito a licenciamentos por várias entidades. Assim sendo, os trabalhos de instalação do posto de carregamento no Terminal Fluvial do Seixal mostram-se um pouco mais morosos do que o inicialmente previsto”.

A informação foi avançada pela Lusa, citada pelo “Sapo”. Este era o plano, porém, foi adiado uma terceira vez, agora para o mês de setembro, mais especificamente a segunda quinzena desse mês. Assim aconteceu. Dia 16 de setembro teve início a fase experimental da operação regular dos novos navios 100 por cento elétricos, com a realização de algumas carreiras, de acordo com o horário comercial em vigor.

O enredo de outubro

No passado dia 11 de novembro, segunda-feira, a autarquia do Seixal reuniu-se com a presidente do Conselho de Administração da Transtejo, Alexandra Ferreira de Carvalho. Neste encontro, segundo avançou a Câmara Municipal do Seixal à NiS, o presidente do município seixalense, Paulo Silva, manifestou o seu descontentamento pela constante supressão de carreiras que fazem a ligação entre o Seixal e o Cais do Sodré.

O município considerou ser visível que o serviço público desenvolvido pela Transtejo no concelho do Seixal “tem sido deficiente”, deixando, “devido à constante supressão de carreiras”, muitos utentes com “dificuldades em chegar à capital”, através deste meio de transporte. Esta redução de carreiras tem originado, consequentemente, uma diminuição de passageiros, que procuram alternativas para se deslocarem, entre as quais o transporte individual ou o comboio.

“Só no mês de outubro de 2024, registou-se a supressão de 89 carreiras fluviais, sendo que a maioria das supressões ficou a dever-se a problemas com o carregamento das baterias dos navios elétricos. A autarquia do Seixal não aceita que sejam sempre os utentes do concelho do Seixal os castigados com as supressões das carreiras”, refere Paulo Silva à NiS.

Neste sentido, o presidente da Câmara do Seixal propôs à Transtejo a existência de algumas carreiras, vindas do Barreiro, que passem no Seixal para apanhar utentes, seguindo depois para Lisboa, tendo em conta que a distância entre Barreiro e Seixal é curta.

A justificação dos atrasos e supressões reside em “problemas com o sistema de carregamento”, tendo sido garantido pela empresa, que isso deveria estar resolvido no final deste ano, com as reparações nos sistemas e a estação de carregamento do Cais de Sodré a funcionar.

Já a Transtejo, em declarações à NiS, referiu que o facto de ser um “projeto pioneiro e inovador, implica a afinação de alguns aspetos, identificados após a entrada em operação dos navios elétricos”. A ABB, que desenhou o sistema de carregamento para o fornecedor dos navios Gondán, está a desenvolver uma solução que permitirá “ultrapassar rapidamente” estes episódios.

“Face às especificidades técnicas da operação elétrica (ainda em fase experimental), designadamente, navegação e carregamento dos navios, têm-se registado alguns episódios de falta de ligação entre a torre de carregamento rápido, instalada no pontão do Terminal Fluvial do Seixal e os navios elétricos, originando algumas supressões e atrasos em certas carreiras dos períodos de ponta de alguns dias úteis. Damos, ainda, nota que todas as alterações de serviço imprevistas (atrasos e/ou supressões) são comunicadas, logo que conhecidas, nos habituais canais de comunicação com o passageiro: (Partidas em tempo real) disponíveis no sistema digital de informação dos terminais fluviais e (Próximas partidas) em ttsl.pt e na App TTSL”, revelou a secretaria da Transtejo à NiS.

A Transtejo “lamenta os constrangimentos causados aos passageiros” e refere que está a focar todos os esforços para repor a normalidade da operação com a maior “brevidade possível”. A empresa de transportes continua confiante que a entrada ao serviço dos novos navios elétricos virá “mitigar este género de ocorrências”, com garantias de melhor prestação de serviço.

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