O colesterol elevado pode ser um assassino silencioso. Quando os níveis sobem mais do que o desejado, o risco de sofrer um enfarte, AVC e outras doenças aumenta. Muitos têm mesmo de tomar medicação diariamente para manter os valores sob controlo. Porém, há casos em que nada resulta. Se faz parte da elevada percentagem população portuguesa que desespera sem alternativas, temos boas notícias: há uma dieta, chamada Portfólio, que pode realmente funcionar.
A eficácia foi comprovada recentemente por um grupo de investigadores de Havard. Os cientistas concluíram, que os níveis de colesterol mau, o LDL, das pessoas que seguiram o plano alimentar baixaram. Como consequência, tiveram também um risco 14 por cento menor de doença coronária e AVC, em comparação com o grupo que não o fez. A pesquisa foi publicada no passado dia 25 de outubro, na revista “Circulation”, da Associação Americana do Coração.
O plano alimentar não é novo, pode mesmo ser considerado um velho conhecido. David Jenkins, professor de nutrição e metabolismo na Universidade de Toronto, criou o regime em 2002, a meio de uma das suas investigações. O docente queria perceber qual o impacto de certos alimentos no controlo dos níveis de colesterol. Escolheu-os meticulosamente, tendo em conta os benefícios que tinham para controlar a doença e colocou a informação sobre cada um, num género de dossiê.
Passou a andar todos os dias com a pasta, que abria em qualquer lado para apresentar a sua coleção, como um género de Portfólio. E, um pouco em jeito de brincadeira, o plano acabou mesmo por ficar conhecido com esse nome.
Como funciona
Jenkins defendia que as refeições das pessoas com colesterol elevado deveriam basear-se em proteína de soja, esteróis vegetais, frutos secos e fibras solúveis. E acabou por confluir que, quando consumidos em conjunto, como parte de uma dieta regular, teria um impacto muito positivo na redução dos níveis do LDL, associado ao desenvolvimento de doenças cardíacas.
Os investigadores de Harvard, pegaram nas conclusões do professor canadiano e analisaram os hábitos alimentares de 200 mil adultos inscritos em estudos de longo prazo dos Estados Unidos, iniciados entre as décadas de 1980 e 1990. A cada quatro anos, os participantes foram submetidos a questionários sobre os hábitos alimentares que mantinham. Compararam depois todos os dados e agora conseguiram então concluir que Jenkins tinha razão.
Se está a pensar em começar esta dieta, devemos alertar que não é aconselhada a toda a gente. Seguida à risca, é um regime quase vegan, ou seja, sem carne, ovos, aves, peixe ou lacticínios.
Contudo, é bastante simples (embora difícil de seguir à risca). Basta substituir certos alimentos por outros que, comprovadamente, reduzem os níveis de colesterol. Isto significa que deve privilegiar a proteína de soja, os legumes, a fruta e usar margarinas e óleos vegetais como fontes de gorduras. Deve eliminar os alimentos processados, o açúcar e as gorduras saturadas.
O plano também deve incluir pelo menos uma porção de frutos secos por dia, como amêndoas, nozes ou pistácios e alimentos ricos em fibras solúveis. Estes podem melhorar a digestão, baixar os níveis de colesterol e reduzir os picos de açúcar no sangue. Frutas, legumes, aveia ou leguminosas são alguns exemplos.
No entanto, se já trava esta luta contra o colesterol há muito tempo, já deve ter ouvido falar de outros planos que também prometem ajudar a controlar a doença. A dieta mediterrânica, por exemplo, é das mais conhecidas para o efeito.
Será uma boa opção?
Com tantas opções pode tornar-se mais difícil saber o que escolher, por isso, a NiT pediu a uma nutricionista que comprasse ambas. No final, basta avaliar qual faz mais sentido no seu estilo de vida.
A dieta mediterrânica nasceu no auge dos anos 60 com base nos padrões alimentares das pessoas na Grécia e no Sul de Itália e, desde aí, tornou-se no regime preferido de milhares de pessoas. Caracteriza-se pelo seu baixo teor de gordura saturada e engloba sobretudo vegetais, legumes, fruta, frutos secos e cereais integrais. Além disso, apresenta o azeite como a principal fonte de gordura adicionada. Embora seja predominantemente baseada em plantas, inclui também quantidades moderadas de peixe e lacticínios, bem como pequenas quantidades de ovos, aves, e carne vermelha.
“Esta é mais do que um regime alimentar, é um estilo de vida, estando igualmente associada a uma diminuição do desenvolvimento de determinadas doenças”, começa por explicar a nutricionista Bárbara Plácido, a quem a NiT pediu para comparar ambas.
Há muito que as aproxima, à primeira vista. No entanto, como analisou a especialista em nutrição, têm também muitas diferenças. A mais notória está na proteína escolhida. “A dieta portfólio incentiva o consumo de alimentos produzidos a partir da soja, enquanto a dieta mediterrânica, apesar de incitar ao elevado consumo de produtos vegetais, em detrimento do consumo de alimentos de origem animal, realça a importância de incluir pescado.”
Outra diferença está na gordura que aconselham a utilizar, uma prefere a margarina e óleos vegetais enriquecidos com esteróis vegetais, enquanto a outra defende o azeite como o mais indicado.
O pão e o vinho, que causam sempre dúvidas, são aconselhados na dieta mediterrânica. Já o plano portfólio pede “moderação” para o consumo de hidratos e não faz referência àquela bebida.
Caso tenha dificuldade em controlar os níveis de colesterol pode adotar a dieta portfólio, no entanto, é importante que o faça com aconselhamento de um profissional de nutrição e/ou saúde.