Rúben Ferreira gostava de frequentar festas noturnas da Margem Sul, especialmente aquelas que eram organizadas pelo Rebel Bingo, um conceito que criava eventos secretos, revelando o local dos mesmos apenas quatro horas antes de acontecerem. As pessoas, atraídas pelo mistério, fizeram da iniciativa um sucesso, com lotação esgotada em qualquer que fosse o espaço.
“Toda a ideia da surpresa mexia comigo. Lembro-me de irmos a estas festas secretas e de nos darem um cartão de bingo e canetas de feltro. As dançarinas iam gritando os números e o prémio era uma poder beber um pouco de vodka, servido diretamente da garrafa. Quando chegávamos ao fim da noite já estávamos todos pintados com as canetas, sem dúvida foram as melhores festas da minha adolescência”, confessa Rúben à New in Seixal.
Esta memória despertou uma ideia que fez Rúben, hoje om 44 anos, criar o projeto Falsh. O conceito passar por realizar aulas fitness, que acontecem nos mesmos termos das festas que frequentava quando era mais novo.
Todos os domingos, por volta das 9 horas, Rúben anuncia o local onde vai decorrer o treino nesse dia, que pode ser numa fábrica abandonada, no centro de uma rotunda da cidade ou até mesmo num local já fora do concelho. Uma coisa é certa: todas as semanas, as aulas e a localização vão ser diferentes e originais.
Rúben é natural do Barreiro, mas passou a vida no concelho da Moita. Sempre teve o sonho de ser jogador de futebol, inclusive jogou nos Séniores do Amora, mesmo antes de saber que vinha viver para o Seixal. Quando fez 23 anos, decidiu que o futebol não ia dar frutos, por isso dedicou-se aos estudos, para se tornar professor de educação física.
Entrou na faculdade, em Beja, em 2006, para tirar Desporto. Acabou o curso com 29 anos e seguiu-se um mestrado na Lusófona, em Educação Física. A meio dos estudos surgiu a oportunidade de entrar na Câmara Municipal do Seixal como técnico superior, para dar aulas de natação na Piscina Municipal de Paio Pires. Abandonou o mestrado, ficando apenas com uma pós-graduação.
Ao mesmo tempo, começou a dar aulas de fitness no ginásio Calorias, na Torre da Marinha. “Nesse ginásio abracei o treino funcional, até que veio a quarentena que, curiosamente, deu-me a oportunidade para chegarmos onde estamos agora. Tinha um grupo de pessoas porreiras nas aulas de HIP, no Calorias. Estávamos fechados e alguns membros começaram a mandar-me mensagens para fazermos algumas aulas, era bom para a minha sanidade mental e a minha companheira, a Ana, também me motivou a agir”, conta.
Assim, começaram as famosas lives do Instagram, que juntavam mais de 100 pessoas por sessão. Rúben comandava três aulas por semana a partir de casa. Os cães ladravam, o telemóvel caía, os miúdos corriam e brincavam na parte de trás da sala, mas nada impedia Rúben de dar um treino às pessoas que precisavam, durante a pandemia da Covid-19. Ali, descobriu que tinha um grupo grande de público que estava disposto a segui-lo.
“Quando levantaram as restrições e disseram que podíamos voltar a dar aulas na rua foi um alívio, estava cansado de estar em casa, precisava de mexer-me mais. Foi exatamente nessa altura, por volta de 2021, que criei o conceito do Flash. Passei a criar um grupo de WhatsApp todas as semanas e metia lá as pessoas que queriam participar. À segunda-feira fazia um vídeo da aula e partilhava o local secreto, à terça-feira o grupo explodia e eu voltava a excluir toda a gente. Era um modelo muito trabalhoso”, explica.
As aulas secretas
Desde então, Rúben foi fazendo ajustes. Hoje, o grupo de WhatsApp está criado, qualquer um pode entrar através da página do Instagram. Existem três aulas por semana, sendo que a de domingo é secreta. É lançada uma sondagem para saber quantas pessoas estão dispostas a ir e, a partir desse número, é escolhido o local do treino, que dura, em média, uma hora.
“Recordo-me que a primeira aula secreta foi no centro da rotunda, perto do RioSul Shopping. Os carros passavam e lá estávamos nós, no meio, com apenas uma coluna e a nossa vontade treinar”, conta à NiS. “Ao início, este conceito espremeu-me a criatividade. Estive um ano parado, mas voltei mais maduro e com uma equipa de três pessoas, o Luís Monteiro, a Inês Fernandes e a Ana Cachapa, a minha companheira”, refere.
Desde esse momento, já realizou treinos muito originais. A segunda aula secreta foi feita na antiga fábrica da seca do bacalhau. Participaram cerca de 50 pessoas, que realizaram exercícios em cima das linhas de montagem (e onde houvesse espaço). Outra aula marcante foi feita no antigo Mochito, um hotel abandonado a caminho de Corroios. Este spot tem uma piscina de 50 metros, que se encontra vazia há muitos anos. Rúben ficou fora da piscina, enquanto os participantes entraram lá para dentro e seguiam as indicações do instrutor fitness.
“Cada aula tem um custo de 4€ e não existe nada dessas coisas de fidelizações. Queremos uma experiência física relacionada com o movimento humano. Subimos, descemos, puxamos, empurramos e treinamos padrões de movimento. No fundo, trabalhamos para a função e não para o grupo muscular, como fazem os culturistas”, esclarece.
Para isso, as aulas podem ser feitas apenas com o peso do próprio corpo, mas também com auxílio de algumas cargas e pesos externos. Alguns momentos também podem fugir completamente do conceito inicial, sendo que uma das aulas surpresa foi uma introdução ao surf, feito numa praia da Costa da Caparica.
Carregue na galeria para conhecer melhor o conceito do Flash e saber como se pode juntar a este movimento fitness.