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Cintas com óleo de rícino para desinchar é a nova moda do TikTok. Será que funciona?

“Antes fosse tão fácil”, diz o gastroenterologista Ricardo Veloso. Não há evidência científica que comprove os benefícios.
É a nova moda do Tik Tok.

Se anda pelo TikTok, é possível que já tenha visto vídeos de pessoas a aplicar óleo de rícino no umbigo — seja diretamente, através de cintas ou de uma espécie de penso circular. Quem o faz garante que a prática reduz o inchaço e a obstipação e ajuda a manter uma boa saúde digestiva. “Antes fosse tão fácil”, reage o gastroenterologista Ricardo Veloso.

Apesar das inúmeras partilhas, não há evidência científica a sustentar os benefícios relatados: o mais provável é que seja placebo, diz o médico. É verdade que, quando ingerido, o óleo de rícino (obtido através de sementes de uma planta chamada mamona) é laxante, mas “não é muito utilizado porque tem alguns efeitos secundários, pode causar algum grau de dor abdominal, por exemplo”, refere o especialista.

Há vários estudos que mostram o efeito deste óleo, mas não é muito recomendado porque “há outros [laxantes] melhores e que provocam menos efeitos colaterais”, acrescenta Ricardo Veloso.

No entanto, não é essa a forma de aplicação que a tendência — que acumula milhares de visualizações nas redes sociais — promove. O óleo é posto no umbigo e mantido durante longos períodos de tempo. Grande parte das utilizadoras dorme com uma cinta cheia deste líquido à volta da cintura.

“Isto vem da medicina ayurvédica, que diz que o umbigo tem um ponto de ligação ao cérebro. É uma crença e não tem base científica, não passa de uma convicção”, explica o médico. “Não tem efeito nenhum, se é posto na barriga não tem ação terapêutica”, no máximo hidrata a pele. Ou seja, “é placebo”, mas “se as pessoas se sentem bem, não há problema nenhum”.

Para perceber eventuais efeitos seria necessário fazer um estudo que confrontasse a aplicação na pele de óleo de rícino com outra substância-placebo “e ver se havia uma diferença estatisticamente significativa”.

Uma das consequências, menos faladas, está relacionada com o dinheiro gasto nestes artigos. Na verdade, quando surgem estas tendências, “a carteira é que sofre”. De repente, o feed das redes sociais é inundado com cintas, pensos, bolsas, óleos melhores e mais caros e cria-se uma sensação de necessidade. Ricardo Veloso sublinha que nenhum desses dispositivos é regulado por autoridades de saúde.

Sintomas como inchaço ou obstipação “estão muito ligados a doenças do trato digestivo, como o síndrome do intestino irritável”. Há um caminho muito longo a percorrer no tratamento e investigação dessa sintomatologia, admite o médico, o que pode explicar a elevada procura por soluções alternativas. “Há um descontentamento porque a medicina convencional não consegue dar respostas definitivas”, diz, “nem há um tratamento universal para todas as pessoas”.

A alimentação é importante, claro, e perceber se há algum grau de intolerância alimentar é um dos primeiros passos para uma vida mais confortável. Para além disso, a ansiedade agrava os sintomas e, também por isso, deve ser controlada, “preferencialmente através de psicoterapia”.

“Antes de tentar a medicina complementar” deve recorrer-se a métodos convencionais, defende o médico. Principalmente se tiver mais de 50 anos, se os sintomas começarem de forma súbita, se houver perdas de sangue nas fezes, anemia, perda de peso sem justificação aparente ou historial de cancro do intestino na família.

Nos casos de condições em que a medicina tradicional consegue apenas atenuar os sintomas mas não mitigá-los, Ricardo Veloso garante que “não tem nada contra medicinas complementares, mas muito contra medicinas alternativas”.

Ou seja, há métodos que podem ser utilizados em simultâneo com um tratamento convencional, mas quando se descarta a evidência científica na totalidade “abdica-se da possibilidade de diagnósticos importantes”. Mas “a medicina é voluntária, cada um faz o que quer com a sua saúde”.

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