Milhares de pessoas já estavam sentadas em frente ao Palco 25 de Abril pelas 21h30. Quer olhasse para a esquerda ou para a direita, ia ver o mesmo cenário, espectadores com cadeiras de plástico na cabeça à procura do melhor espaço livre do recinto.
Enquanto alguns ainda estavam nestas mudanças, a Carvalhesa começou a tocar, perto das 21h55, e o caos instaurou-se no recinto. Quem estava a carregar cadeiras, mandou-as para o chão, os que estavam sentados levantaram-se e foram a correr para a frente do palco. A serenidade deu lugar a uma enorme festa repleta de alegria, dança e boa disposição.
Bandeiras ao alto, assobios, risos e saltos duraram até ao fim da música, que se transformou num novo momento de calma, com todo o público a voltar aos lugares e a permanecer em silêncio. A maioria das pessoas encontrava-se à volta do recinto do palco e, mesmo as que não estavam, respeitaram o momento que se seguiu: o concerto sinfónico em homenagem ao centenário de Carlos Paredes e Joly Braga Santos.
Mal o ponteiro assinalou as 22 horas, a Orquestra Sinfonietta de Lisboa, conduzida pelos maestros Vasco Pearce de Azevedo e Constança Simas, com o solista de guitarra portuguesa Paulo Soares, começou o primeiro concerto principal da Festa do Avante!.
Quando começou a abertura Sinfónica n.º 3 Op. 21 (1954), de Joly Braga Santos, Nocturno para Orquestra de Arcos Op. 12 (1946), de Joly Braga Santos e Alfama (Suite de Bailado) (1956), de Joly Braga Santos, aconteceu um fenómeno invulgar neste tipo de eventos: existia um silêncio de cortar a respiração.
Todos escutavam com atenção e quem estava nos cafés e espaços gastronómicos em redor, começou quase a sussurrar para não perturbar a performance. Ninguém diria que dez minutos antes a casa estava a ir abaixo.
Depois, foi a vez de Lisboa e o Tejo (2011), de Carlos Paredes, arr. Tiago Derriça, a Two portraits for Paredes (2023), de Carlos Paredes, arr. Francisco Tavares e a Suite Entre Paredes (2021), de Luís Cardoso. O cenário manteve-se.
O nome Carlos Paredes é bem familiar para quem costuma apreciar a vasta gama musical das Festas de Corroios, já que o palco principal foi batizado com o nome do artista. A ideia surgiu quando o compositor e mestre da guitarra portuguesa morreu a 23 de julho de 2004, com 79 anos.
É, sem dúvida, uma figura reconhecida pelo enorme contributo para a cultura portuguesa, com foco especial na guitarra, que é o instrumento principal que acompanha o clássico fado português.
Além dos leves toques nas cordas da guitarra portuguesa, Carlos Paredes foi compositor de diversas músicas. Em 1958, foi preso pela PIDE por fazer oposição a Salazar, foi acusado de pertencer ao Partido Comunista Português, do qual era de facto militante, sendo libertado no final de 1959.
Durante este tempo, andava de um lado para o outro da cela fingindo tocar música, o que levou os companheiros de prisão a pensar que estaria louco. Na verdade, o que ele estava a fazer, era compor músicas, na sua cabeça.
Joly Braga Santos nasceu em 1924, em Lisboa, e dedicou grande parte da sua vida à composição musical. Maestro de música erudita, gravou o nome na história dos artistas portugueses ao ser eleito pela UNESCO como um dos melhores dez compositores de música contemporânea, na altura. Fundou grupos de música jovem, criou sinfonias e, mesmo no fim de vida, mostrou sempre grande criatividade. Morreu em 1998, com 64 anos.
A Festa do Avante! começou esta sexta-feira, 6 de setembro, estendendo-se até domingo, dia 9. Dezenas de milhares de visitantes vêm de todas as cidades do País para assistir e conviver na Quinta da Atalaia. A Entrada Permanente – EP – pode ser adquirida nos Centros de Trabalho do PCP e custa 45€. Caso só vá um dia, saiba que a entrada de sábado é 40€ e a de domingo é 28€.
Carregue na galeria e veja algumas imagens do primeiro concerto principal da Festa do Avante!.