“Tudo pára um dia”, ouvimos no trailer de “O Colapso”. Mas o que acontece nesse dia, como será o mundo quando tudo o que assumimos como natural e acessível do nosso quotidiano deixa de o ser?
“O Colapso” é a elogiada minissérie francesa que chega agora aos ecrãs nacionais, no canal AMC. São oito visões que temos pela frente, filmados em plano-sequência, que vão procurar debruçar-se sobre como se vive em sociedade, quando a sociedade como a conhecemos chegou ao fim. A obra foi a representante francesa na categoria de minissérie ou telefilme internacional, nos últimos prémios Emmy. E este é um daqueles casos em que teve algo de profético.
Concluída em 2019, naquilo que parece ter sido já numa outra vida, estávamos ainda longe de imaginar que 2020 traria uma pandemia que nos obrigaria a repensar o nosso dia a dia. Lembra-se daquele bizarro fenómeno dos papéis higiénicos a desaparecerem das prateleiras? Em “O Colapso” não é nenhuma pandemia que está em destaque mas o fim do sistema.
Imagine se os supermercados são roubados, se além do papel higiénico vai desaparecendo também a comida. E se aquela pessoa que parecia só paranóica, em pânico, à pressa a levar coisas do supermercado, na verdade fosse a que estivesse mais alerta para o que aí vinha? Este é logo o mote para esta viagem.
“O Colapso” vai-nos mostrando isto e tudo o mais que poderia mudar de um dia para o outro. Não é apenas querer pôr combustível no carro e já não ser possível. Aqui há centrais nucleares que ficam sem vigilância, aumentando cada vez mais a ameaça. Falta energia, comida, segurança. E qualquer ideia de conforto fica cada vez mais distante.
A série não se alonga a explorar o desastre que terá antecipado o tal colapso, optando por mostrar como são as pessoas (no seu melhor e no seu pior). Há sempre poderosos e ricos que arranjaram maneira de escapar. Mas para boa parte da humanidade, o que se avizinha é uma miséria mais próxima do fim da civilização.
Conta o “Le Point” que o projeto partiu de um coletivo intitulado Parasite. Jérémy Bernard, Guillaume Desjardins e Bastien Ughetto estavam ainda a estudar cinema quando começaram a planear a ideia então um pouco louca: em episódios de 20 minutos, de câmara ao ombro, queriam mostrar o fim dos tempos filmados em planos-sequência, algo que aumentasse o sentido de urgência.
Com pouco ou nada a perder, apresentaram a ideia ao Canal+ e começou aí o que viria a ser uma elogiada minissérie num país que é rico na produção de ficção. A imprensa francesa elogiou o espírito da ideia desta nova geração de autores, uma geração com outro sentido de urgência, menos interessada em alongar-se sobre o que nos trouxe até aqui, a este risco crescente da subsistência do próprio planeta. O que importa é parecer por que razão não fazemos algo mais, já, para contrariar a ideia de colapso.
A minissérie explora alguns comportamentos vis do ser humano, quando qualquer valor ético é posto de parte perante a ideia de impunidade (ou até simples sobrevivência). Mas a série tem também momentos que mostram como o ser humano é capaz de se adaptar perante as dificuldades.
Um dos episódios que tem colhido mais elogios até tem o tal lado profético, que permite uma reflexão sobre os tempos estranhos que vivemos. É no quarto episódio, em que uma enfermeira de um lar se recusa a deixar um idoso para trás. Fica com ele, preparada para aliviar o seu sofrimento da melhor forma possível, em confinamento. A ficção é uma forma de refletirmos sobre a realidade. Mas há altura em que a realidade a ultrapassa, mesmo parecendo coisa de ficção.
“O Colapso” conta no elenco com nomes como Lubna Azabal, Audrey Fleurot, Philippe Rebbot, Samir Guesmi e Thibault de Montalembert. A estreia é já esta sexta-feira, 8 de janeiro, pelas 22h10. E não vai precisar de esperar muito para ver todos os oito episódios no canal AMC.
Esta sexta-feira são transmitidos os primeiros quatro episódios, no sábado, 9 de janeiro, a partir da mesma hora, são exibidos os restantes. quatro Além da estreia em televisão linear, a minissérie completa fica logo disponível em VOD a partir de 11 de janeiro.