Sara Antunes entrava num mundo mágico sempre que ia à casa da avó, onde havia um atelier de arte. Era lá que a sua mãe, Graça, se dedicava à pintura. Não eram as cores que lhe chamavam a atenção, mas o cheiro das tintas e de todos os materiais que eram utilizados.
Lembra-se de espreitar pela porta e observar o que a mãe fazia. As pinceladas, a mistura de cores, a utilização da tinta em pó foram algumas das coisas que lhe ficaram presas na memória. Recorda-se, em especial, de um quadro que estava no quarto dos pais, que retratava pessoas a serem descascadas como laranjas.
Apesar desta curiosidade, Graça nunca ensinou Sara a pintar. Só agora, passados 40 anos, é que a mãe lhe dá dicas e conselhos relacionados com arte, já que trabalham juntas no atelier GAAS. Este acrónimo junta as iniciais de Graça Antunes e é um espelho das iniciais de Sara, uma homenagem aos estilos distintos de ambas as artistas.
Sara, atualmente com 51 anos, sempre gostou de desenho. Natural de Lisboa, frequentou escolas em Benfica, como o Magistério Primário e a escola de Quinta de Marrocos. Após finalizar o ensino secundário, foi para a Faculdade de Belas Artes, para se licenciar em Arquitetura. Durante este percurso, realizou Erasmus em Barcelona e, depois de terminar o curso, em 2011, entrou no mestrado de desenho, na mesma faculdade. Já em 2022, concluiu o doutoramento em Arquitetura, na área específica de desenho.
“Exerci a profissão durante alguns anos, mas alguma coisa sempre me chamou para o desenho. Quando me inscrevi no mestrado, vi que estava certa. Acabei por especializar-me e agora sou professora universitária de Desenho na Faculdade de Arquitetura de Lisboa”, conta Sara Antunes à New in Seixal.
Depois de tirar o mestrado, começou a pintar quadros e participou em algumas exposições com as suas obras. Porém, no meio deste caminho artístico, faltava algo. A ligação com o lado materno. Graça Antunes, de 78 anos, natural de Vila Franca de Xira, sempre foi artista. Licenciou-se em pintura na Faculdade de Belas Arte de Lisboa, em 1970, e foi uma das bolseiras da fundação Calouste Gulbenkian, o que, desde cedo, revelou o seu talento com os pincéis.
“A minha mãe agora vive no Seixal. Os meus pais compraram aqui um terreno há mais de 50 anos. A casa foi feita por mim e pelo meu marido, que também é arquiteto. Na altura que começámos a projetá-la, houve logo o intuito de criarmos um atelier tão grande como a casa, uma ideia que já vinha da minha mãe. Ela tinha o atelier na casa da minha avó e estava na hora de criar um, na sua própria casa”, diz.
Assim foi. A moradia ficou pronta em 2005, seis anos antes de Sara se dedicar ao mestrado de Design. Graça começou a pintar sem parar, até que chegou a pandemia do Covid-19. A partir deste ponto, a artista revelou à filha que não queria trabalhar com mais ninguém, e que iria apenas fazer obras em conjunto com ela.
O ano de 2020 ficou, então, marcado pela criação do Atelier GAAS – Graça Antunes e Sara Antunes, um espaço de trabalho localizado no concelho do Seixal, na casa de Graça. Sara, por dar aulas universitárias, não está 100 por cento focada nos trabalhos de atelier, mas, quando tem tempo, é para lá que vai, quase como se fosse um escape de fim de semana.
“Gosto da natureza do Seixal, principalmente de andar pelos espaços verdes do concelho. Tem sido uma fuga de Lisboa e tem tudo o que amo fazer, o trabalho de atelier, sair com a minha mãe a concertos e a conexão com o lado natural“, revela à NiS.
Graça tem na arte uma forma de se manter ativa. Quase a chegar aos 80 anos, refere que “não vai parar de pintar”. Além de todos os quadros que cria, também tira algum do seu tempo para ser professora na Universidade Sénior do Seixal, onde dá aulas de pintura.
“Ela só vai parar de pintar quando não conseguir fazer mais nada, por vezes pode faltar motivação a uma ou a outra, mas acabamos sempre por nos apoiar e ganhar novamente energia para novos projetos. Não é por sermos mãe e filha, mas fazemos uma ótima dupla”, acrescenta a filha.
Sara usa tintas de base aquosa, pincéis e canetas. Já Graça aposta num estilo que tem por base o acrílico e óleo. Ambas assumem estas diferenças e encorajam-se a abraçar diferentes abordagens artísticas. Recentemente, inauguraram uma exposição no Seixal, que está patente na Galeria de Exposições Augusto Cabrita até 25 de janeiro de 2025.
A exposição, chamada “Percurso em Construção”, tem entrada livre. Vai poder ver ao vivo mais de 60 obras que estão divididas em técnicas de tinta sobre papel e acrílico sobre tela. Como o próprio nome indica, este é um conjunto de trabalhos que ainda está a ser desenvolvido pelas duas artistas no atelier.
Carregue na galeria e conheça alguns trabalhos que vão estar presentes nesta exposição seixalense.