É indiscutível que em cada cidade existem sempre figuras ou personalidades que se destacam em diferentes áreas. O nome Mário Silva Barradas pode muito possivelmente não ser-lhe estranho ao ouvido. Sobretudo se for consumidor regular da cultura portuguesa e, especialmente, da criada e saída do Seixal. É exatamente a história deste homem dos mil ofícios das artes que hoje lhe trazemos.
Tem 36 anos, é considerado um artista inconfundível de todo o concelho seixalense e transporta todos os dias dentro de si o amor e a dedicação que entrega à cultura. Começou na área da música, tornou-se cantor, mais tarde professor e abraçou ainda o teatro. Pelo meio assinou algumas composições musicais, esteve à frente de diversos espetáculos e eventos, tenham sido eles ligados ao universo da música ou ao teatro, e daqui para a frente sabemos que há muito mais a esperar deste seixalense.
Foi por volta dos seus dez anos que se aventurou em ir aprender música pela primeira vez. A Filarmónica União Seixalense recebeu-o de braços abertos e aí foi o começo de uma carreira, enquanto músico, de extremo sucesso. Dois anos depois já se encontrava a estudar na Academia de Música e Belas Artes Luísa Todi, em Setúbal.
Era o trompete o instrumento que o acompanhava sempre. Só que a classe do seu companheiro musical de todas as horas acabou por extinguir-se devido ao facto de já não ter alunos. “Chegou a uma altura em que eu era o único a aprender o instrumento”, revela em entrevista à NiS. A única solução para manter viva a música dentro de Mário seria a sua transferência para o Conservatório Regional de Setúbal — e assim aconteceu.
Foi aí que conheceu uma professora de coro, a maestrina Filipa Palhares, que depois de ter avaliado o seu potencial aconselhou-o a fazer o concurso para o Conservatório Nacional de Lisboa. “Pensei naquilo que ela me disse, mas estava consciente de que podia não resultar. É verdade que gostava de cantar, mas não fazia ideia que podia um dia seguir uma carreira de canto”, conta.
A verdade é que largou os medos e as dúvidas e, entre diversos candidatos, muitos dos quais com formações de canto, foi um dos selecionados. Graças a isso, Mário é atualmente formado nessa mesma área, sendo que mais tarde, também por seu gosto pessoal e devido a uma atualização das leis em Portugal, entrou na Escola Superior de Educação de Setúbal para se tornar professor de Educação Musical.
Com apenas 19 anos, Mário Silva Barradas já tinha vários conhecimentos musicais que passou também a transmitir aos seus alunos. A grande maioria do concelho do Seixal, nomeadamente e durante muitos anos, na Escola Básica da Aldeia de Paio Pires (mas não só).
São também escolas particulares que têm o privilégio de trabalhar com, neste caso, o professor Mário. Da mesma forma, o seixalense também dá apoio nas escolas onde existem jovens mais necessitados e que não têm forma de pagar as aulas. “Ensino-lhes educação musical e dou aulas de teatro, canto, de piano, de cavaquinho, ou seja, vou transmitindo aquilo que eu sei”, desvenda.
Em paralelo, Mário divide ainda o seu tempo com um projeto iniciado em 2019 juntamente com um grupo de colegas: a Bastidores D’Arte. Esta é uma associação cultural que, embora sem sede, ensaia na Casa do Povo de Corroios que, segundo o mesmo, “abriu as suas portas e recebeu-os para funcionarem em pleno lá dentro”.
O que ainda não sabe é que dentro da Bastidores D’Arte, Mário é não apenas o presidente da Direção como também tem o papel de encenador do grupo de teatro, além de ser o compositor das músicas que o grupo também interpreta. Acontece com mais frequência nos espetáculos de revista à portuguesa, que é uma das bases desta associação de teatro amador.
No que ao canto diz respeito, continua a fazer parte integrante da vida deste artista seixalense. Embora relate que goste de cantar de tudo um pouco e mesmo que tenha formação em várias línguas, o que mais orgulho lhe dá é poder cantar em português.
“Tenho uma forma de estar que é: se nós portugueses não lutarmos pela nossa cultura, não são os de fora que vão lutar. Temos de gostar de nós próprios. A música portuguesa deve gostar dela própria. Gosto imenso de cantar os poetas, aquelas canções bem construídas dos anos 60, 70, parte dos anos 80. Gosto imenso de interpretar Ary dos Santos, tudo o que for assim poemas mais difíceis”, confidencia.
O artista já fez espetáculos de músicas da Disney, acompanhado por uma orquestra — aconteceu em Sesimbra e Azeitão —; também participou num espetáculo onde interpretava as músicas do Festival da Canção que foram à Eurovisão. No meio de todos os estilos, só o fado é que o coloca mais desconfortável.
“Não estou muito à vontade com o fado, porque é mais espontâneo e fui ensinado e habituado a ter o rigor da pauta. É como se a liberdade tivesse uma porta e não pode ser. O fado é o que vem da alma, vem de dentro. E é um bocadinho o que sai. E como tenho rigor métrico dentro de mim, torna-se um pouco mais complicado. Gosto de cantar, sim, mas é o estilo em que me sinto menos à vontade”.
No meio de tanta habilidade e arte explorada, contudo, há algo que se encontra em falha: a dança. Ao que parece o artista detesta dançar. “É horrível. Detesto. Não tenho jeito nenhum. Pareço um cepo em cima do palco”, confidencia, entre risos, à NiS, acrescentando: “A minha estatura não ajuda. Sou uma pessoa extremamente baixinha, com 1,90 metros, e extremamente magro, com 110 quilos”.
Sendo este um homem da cultura, mais do que seixalense, portuguesa também, Mário Silva Barradas deixou na entrevista dada à New in Seixal um apontamento crítico ao estado desta área no nosso País. “Os maiores desafios que acontecem hoje têm a ver com o facto de continuarmos a pensar pequeno. Em Portugal preocupamo-nos muito com tudo, menos com a cultura”, remata.