A revolução industrial chegou tarde a Portugal. Muitos países já tinham fábricas de siderurgia mas, por cá, nem sequer tínhamos avançado para a metalurgia. Porém, no que toca aos direitos dos trabalhadores, Portugal esteve na vanguarda, com grande destaque para o Seixal.
A fábrica corticeira da Mundet, localizada na Quinta dos Franceses e inaugurada em 1905, foi uma das maiores exportadoras de cortiça do mundo e um dos grandes polos de trabalho do concelho, sendo que chegou a empregar mais de 2500 pessoas, um número gigantesco para os dias de hoje.
Esta grande massa de trabalhadores, composta principalmente por mulheres que recebiam menos que os homens, foi muito importante na criação dos sindicatos e na luta por melhores condições laborais. Por este facto histórico, a CGTP-IN decidiu abrir o seu arquivo no antigo local desta fábrica, em conjunto com um Espaço Memória dedicado a exposições com entrada gratuita.
A inauguração aconteceu esta terça-feira, 1 de outubro, pelas 15 horas, dia em que a organização da CGTP-IN celebrou o 54.º aniversário. O momento atraiu centenas até ao antigo espaço da Mundet e contou com uma atuação de Luísa Amaro (guitarra portuguesa) e Gonçalo Lopes (clarinete), numa homenagem ao compositor e artista Carlos Paredes.
Quem decidiu marcar presença, além do poder autárquico do Seixal, foi o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que discursou perante a plateia e lembrou a importância histórica da Mundet. “Estamos a celebrar, de uma forma dupla, a história do espaço da Mundet e todas as lutas sociais e operárias e também a simbologia da CGTP-IN ter escolhido este espaço, onde estão presentes as suas raízes de luta operária”, refere o o chefe de estado.
Já Paulo Silva, presidente da Câmara Municipal do Seixal, afirmou que este espaço tem muito significado para o concelho. “Foi a maior fábrica de cortiça do mundo, recebeu diversos seixalenses e foi a escola de formação política para muitos. Daqui saíram lutas que se expandiram para outras fábricas do concelho, aquilo que o Seixal é deve muito às pessoas que passaram por este espaço”.
O Espaço Memória do Seixal – Centro de Arquivo, Documentação e Audiovisual da CGTP-IN resultou de um contrato de comodato entre a Câmara Municipal do Seixal e a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses – Intersindical Nacional (CGTP-IN) e irá reunir o património documental e museológico da CGTP-lN e promover iniciativas que fomentem o estudo, investigação, aprofundamento do conhecimento e a reflexão em torno da história do movimento operário e sindical.
Também vai funcionar como um equipamento multifuncional, com áreas destinadas a exposições permanentes e temporárias, conferências e outras iniciativas, bem como a realização de eventos de natureza sindical e cultural, entre outros. A antiga fábrica de cortiça Mundet tem uma forte ligação às raízes sociais e históricas do mundo do trabalho do Seixal, através da atividade e intervenção do movimento operário ligado à indústria corticeira, pelos Sindicatos da Indústria Corticeira da CGTP-IN.
Por isso, a primeira exposição do Espaço Memória chama-se “Seixal: Trabalho, Luta e Liberdade”. A mostra pretende homenagear os homens e mulheres do concelho que trabalharam na agricultura, na indústria naval e pesca, além das diversas indústrias, que mais tarde aqui se instalaram, bem como as suas reivindicações e mobilizações. O próprio caminho até ao novo equipamento também é um museu, já que podemos ver as ruínas da antiga fábrica da Mundet e toda a dimensão da indústria corticeira.
Carregue na galeria e descubra mais detalhes sobre o novo espaço do concelho do Seixal.