A cultura, muitas das vezes, é uma forma de expressão, um momento em que comunicamos, passamos uma ideia ao próximo. O cinema utiliza muito bem esta ferramenta, seja em mensagens subliminares ou críticas diretas à sociedade. Foi com o objetivo de consciencializar a população, que foi criado o Festival Internacional de Cinema do Saara Ocidental — FiSahara.
Esta coletânea de filmes, de diferentes realizadores, centra-se na ocupação e repressão marroquina no Saara Ocidental e sobre a cultura e os direitos humanos daquele povo. O Seixal decidiu dar casa a este evento, sendo que o Auditório Municipal do Fórum Cultural do Seixal vai receber os três dias da iniciativa, 3, 4 e 5 de outubro, pelas 21h30.
Devido a toda a temática do festival cultural, a entrada é gratuita em todos os filmes que serão mostrados, durante os três dias. Para garantir o seu lugar basta procurar por FiSahara no site da Câmara Municipal do Seixal e entrar num dos painéis do evento, lá vai encontrar um formulário online para ter acesso ao bilhete.
Esta forma de ir ao festival está apenas disponível para 70 por cento da sala de espetáculos, sendo que os restantes 30 por cento dos lugares vão ser distribuídos na bilheteira física no próprio dia do evento. O FiSahara foi criado em 2003 por elementos do povo saarauí e desde então tem percorrido o mundo para levar as problemáticas e a forma como esta população vive ao senso comum dos cidadãos.
No dia 3 de outubro, o festival começa com a apresentação do filme “A Vida nos Campos”, uma obra gravada no México, Saara Ocidental e Espanha em 2020. Tem uma duração de 53 minutos e é apresentado no idioma árabe hassani. Esta produção fala sobre o modo de vida dos saarauís e como muitas famílias acabaram por viver no exílio em campos de refugiados.
No dia 4 de outubro vão ser apresentados vários filmes com histórias de reflexão sensíveis. O tema é “A Mulher Saarauí” com 82 minutos. Aqui vai ser apresentado o filme “Mutha y la muerte de Hamma-Fuku”, uma obra sobre uma pessoa que procura minas antipessoais no deserto do Saara Ocidental e que, todos os dias, enfrenta a morte. Cada mina terrestre explodida lembra-lhe que salvou uma vida, mas também que uma mina marcou o seu destino. Mutha não está sozinha entre o fogo e a areia, ao seu lado, uma presença paralisa-a, mas também a força a continuar a procurar.
Em seguida vai ser mostrado “Insumisas”, de Laura Dauden e Miguel Angel Herrera, onde é representada a forma como as mulheres saarauís estiveram sempre na vanguarda da resistência contra o colonialismo e a pilhagem do território por Marrocos. Apesar da repressão em Marrocos, intensificada pelo colapso do cessar-fogo com a Frente Polisário em novembro de 2020, ativistas que vivem sob ocupação reuniram-se para documentar a violência perpetrada contra as suas filhas, mães, irmãs e avós desde 1975. Este documentário explora esse processo histórico através das vozes das protagonistas como vítimas, pesquisadoras e ativistas internacionais.
Para finalizar este dia, o filme “Running Home” dá as caras para falar de Inma, um atleta de 24 anos que encontra alguns documentos de adoção, onde é revelado que a terra natal da mãe biológica é El Aaiún, no Saara Ocidental. Nunca ouviu falar do país e decide treinar para uma maratona internacional realizada nos campos de refugiados saarauís no Norte de África. É uma oportunidade única, algo que nunca pôde fazer durante a sua infância em Espanha.
No último dia, 5 de outubro, vai ser apresentado um conjunto de dois filmes, chamado “O Espólio de Recursos Naturais”. Neste momento de 58 minutos vão ser mostrados os filmes Ocupación S.A., de Laura Dauden e Sebastián Ruiz Cabrera, e 3 Cámaras Robadas | 3 Stolen Cameras, de Equipe Media e RåFILM .
Na primeira realização vai ser retratada uma traição, uma abordagem minuciosa e sem precedentes. O documentário apresenta os nomes dos empresários e políticos espanhóis envolvidos na exploração económica do Saara Ocidental, a última colónia em África e um dos territórios mais violentos, militarizados e censurados do mundo. Os testemunhos registados neste documentário revelam a cadeia de silêncios e mentiras que começa nos centros de poder europeus e termina nas cidades ocupadas por Marrocos, onde os homens e as mulheres saarauí resistem à privação e negação dos seus direitos.
Já o último filme deste festival internacional fala sobre como os membros do coletivo Equipe Media no Saara Ocidental lutam para manter as suas câmaras de filmar seguras. Esta é a história sobre como ultrapassar a censura numa zona onde as autoridades marroquinas conseguiram implementar um bloqueio, quase absoluto, aos meios de comunicação social.