“Queridos Papás” é a mais recente novela da TVI. Estreou no dia 13 março e foi gravada no Seixal. Criada por Maria João Mira, a partir do argumento de uma telenovela argentina, foca-se em quatro pais e nas suas histórias. Fernando Pires, José Fidalgo, Pedro Sousa e Tiago Teotónio Pereira são os papás que protagonizam esta produção.
Fernando Pires, residente no Seixal, interpreta a personagem de Jaime Guimarães. Trata-se de um empresário em período de transição, à espera do próximo negócio, já que os anteriores lhe correram bastante mal. De momento, dedica-se a tempo inteiro à casa e aos filhos, sendo um pai presente. É casado com Camila (Ana Varela). A mulher tem uma carreira exigente e paga a maior parte das despesas da casa.
Por sua vez está divorciado de Bárbara (Madalena Brandão), a sua primeira mulher que não se habituou ao divórcio e intromete-se na vida atual de Jaime, usando a filha de ambos, Guida (Rita Nascimento), como uma desculpa. Jaime tem um filho com Camila, Tiago, mas ela quer ter outro filho e para isso remove o DIU. No entanto, Jaime não quer ter mais filhos porque está numa altura da sua vida em que não tem como se sustentar.
A NiS falou com Fernando Pires sobre este novo projeto. Leia a entrevista.
Quando lhe fizeram o convite para fazer esta novela, o que é que o atraiu mais?
Primeiro, acima de tudo, para mim o mais importante era saber com quem é que ia trabalhar. E quando ficou definido que eramos nós os quatro foi logo uma coisa que me cativou bastante porque são pessoas que já conhecia anteriormente e com quem me dou bastante bem e sabia que ia ser divertido trabalharmos todos. Sabia que me ia divertir, porque para mim o mais importante quando estou a trabalhar é poder divertir-me e ir para lá a saber que me vou divertir e que vou gostar daquilo que faço. E o papel em si, o facto de eu não ser pai, ou seja, era um desafio diferente daquilo que estava habituado. E foram esses os principais fatores, digamos assim.
Sente que o facto de não ser pai na vida real dificultou o seu trabalho?
Se calhar ser pai ajudar-me-ia, como é óbvio, em algumas circunstâncias. Mas a verdade é que até sermos pais pela primeira vez também nunca passámos por isso e a verdade é que vamos ter que enfrentar os mesmos problemas. Portanto parte muito do que se sente na altura. Tento pensar como é que reagiria se aquela pessoa fosse minha filha e o que é que eu acho que ia fazer. Passou muito por aí. Claro que acho que se fosse pai, se calhar abordava as coisas de uma forma diferente, não sei. Mas como não há um certo nem um errado nisso. E uma coisa boa que nós temos é poder experimentar e até agora não me posso queixar, que tenho gostado bastante. E um aspeto que também é muito importante está relacionado com as personagens que fazem de filhos. Isso aí acho que o casting foi muito bem feito. A nível geral. Todos nós estamos muito satisfeitos. Porque quer queiramos, quer não, são crianças. O casting foi muito bem feito, eles são todos impecáveis e isso ajuda-nos imenso. Estamos a contracenar com uma pessoa que nos dá feedback e isso é uma coisa super importante e ajuda muito.
É bom fazer papéis mais leves para equilibrar com os projetos mais dramáticos?
Sim, acho que sim. Cada personagem, independentemente de ser um papel leve ou não, tem os seus desafios. Acho que passa muito pelo facto de hoje em dia a população em si estar um bocado farta dos dramas. Já bastam os dramas que temos no dia a dia. A população está um bocado farta daquela novela que vem e logo no início mata-se a avó e vem a filha que era pobre e casou com o rico. E acho que hoje em dia as pessoas sentem-se mais atraídas com coisas com as quais se identificam. Eu dou sempre o exemplo do “Conta-me como Foi”, que foi uma série que eu fiz. O que acontecia muito era que as pessoas sentiam-se identificadas, daí gostarem tanto. E quando digo identificadas não era só pela altura que se passava nem pela idade da personagem, mas também coisas simples como, por exemplo, as pessoas terem um cão de loiça igual ao da minha personagem. Ou seja, as pessoas gostam de se sentir identificadas e eu acho que o facto de esta novela tratar de coisas simples no sentido de a maioria de nós já ter passado, como por exemplo ser pai ou ser filho, faz com que as pessoas gostem e vejam problemas com as quais já passaram. Isso normalmente tem tendência para atrair as pessoas. Isso pode ser um fator que faz com que fiquem mais agarradas, digamos assim.

Sobre a sua personagem já se sabe que é o Jaime, pai de Guida e de Tiago. Tem uma nova mulher que quer ter mais filhos mas o Jaime não quer. O que acha deste tipo de situação num casal? A mulher querer ter mais filhos e o marido não?
Acho que deve ser um ‘grande pincel’ [risos]. Falando por mim, que não sou pai mas que ambiciono ser um dia, acho que há um tempo correto na nossa cabeça para que isso aconteça. Muitas vezes isso não acontece e as coisas correm bem à mesma, portanto não significa nada. Mas quando se é um casal em que uma pessoa quer e a outra não quer, acho que tem que ganhar o que não quer. Porque ter uma criança, se começarmos a pensar, é uma grande responsabilidade, a verdade é essa. Não só o facto de se ter que educar uma criança como também monetariamente hoje em dia é uma despesa muito grande. E a verdade é que existem casais que têm três ou quatro filhos e têm o ordenado mínimo e desenrascam-se, como é óbvio. Isso dá sempre para dar a volta. Eu sou um bocado racional nas coisas, às vezes sou racional demais, e isso faz com que para mim seja mais difícil pensar em ter uma criança porque penso em todos os fatores que implica ter uma.
E sobre ser pai de filhos de outras relações? Qual é a sua opinião sobre esse assunto?
Para mim faz todo o sentido. A partir do momento em que as pessoas não estão bem uma com a outra, acho que não faz sentido nenhum estar com essa pessoa. Eu não tenho pais separados, mas conheço muita gente que tem, e acho que as coisas têm que ser bem resolvidas acima de tudo. E tem que se tentar sempre proteger o lado da criança. Porque é sempre difícil. Imagino sempre que se os meus pais se tivessem separado ia custar-me mas às vezes mais vale estar separado do que estarem constantemente a chatearem-se uns com os outros. E muitas vezes as coisas correm bem, ou seja, os pais dão-se bem e as coisas funcionam bem. Depois ainda se ganha um padrasto e uma madrasta que são uns bacanos do caraças e recebem-se mais presentes de Natal [risos].
O que acha desta abordagem de novas formas de paternidade, ou seja, o facto de a história estar centrada nos pais em vez das mães?
Acho que é uma coisa perfeitamente normal hoje em dia. Antigamente havia muito o lado de o pai trabalhar e a mãe ficava em casa a tomar conta dos filhos. As coisas mudaram, como é óbvio, e mudaram para melhor. E acho que é uma coisa que tem que ser repartida. Se o pai tem mais disponibilidade para tomar conta dos filhos, força. O perfeito seria os dois pais não trabalharem para tomarem conta da criança, mas isso é uma coisa que não existe. Portanto tem que se adaptar consoante as necessidades. Acho que já não é considerado uma novidade, uma nova paternidade. Hoje em dia já é considerado uma coisa completamente normal. Mas é a primeira vez que este tema é abordado tão especificamente numa novela, sim.

Que idade tem o Jaime?
Não tenho a certeza absoluta, mas acho que a última vez que vi tinha à volta de 35 anos. Mas eu sou muito mau com idades e com nomes. Normalmente quando dão o perfil da personagem muitas vezes não especificam a idade, diz que está compreendido entre os 33 e os 35 anos, por exemplo. Mas acho que a última vez que li tinha 35 anos. É por volta dessa idade.
Pode desvendar mais um pouco da sua personagem? Qual é o emprego do Jaime? Dá a ideia de que se mete em negócios um pouco falhados. Fale um pouco sobre isso.
O Jaime é muito desenrascado. Ele não é parvo nenhum e é uma pessoa com estudos. O que acontece é que tem azar. Ele já teve negócios bons em que ganhou algum dinheiro. Mas ultimamente acontece sempre qualquer coisa alheia a ele que faz com que as coisas corram mal e daí ele estar sempre numa situação económica mais esquisita comparado com a mulher, que ganha mais. São coisas da vida. Não é porque ele se mete em coisas más. Normalmente tem ideias boas, só que depois acontece sempre alguma coisa que faz com que tudo corra mal. Mas não é por ser mafioso ou por estar a enganar alguém. São azares, mesmo.
Como descreve a novela “Queridos Papás”?
É uma novela leve que retrata problemas normais do nosso quotidiano. Passa muito por isso. É tudo levado com uma certa leveza, que depois dá um sentido mais cómico aos assuntos, como por exemplo a forma como tentamos solucionar os problemas e as situações em que nos metemos. É uma novela que não é totalmente cómica, mas é uma cómica de situação, digamos assim. Mas acho que sobretudo é uma novela leve, ou seja, fácil de se ver e sem dramas.
Qual tem sido o maior desafio até agora?
Acho que são as horas de trabalho [risos]. Nunca trabalhei tanto na vida. Como a história anda à volta só de nós os quatro e o elenco é curto, há poucas personagens, comparado com aquilo que eu estava habituado a trabalhar, trabalho muito. Penso que é a única coisa de que me posso queixar. De resto não. Normalmente o horário de trabalho é das 8h30 às 18h15, mas o problema não são só as horas lá. Em média tenho à volta de 20 páginas de texto e a verdade é que temos que nos preparar, cada um à sua maneira, para o dia seguinte. E isso não é feito nas horas que lá ficamos a trabalhar. Até é melhor estar lá a trabalhar do que ficar à espera que seja a nossa cena. Quando estamos lá a trabalhar divertimo-nos muito mais e o tempo passa mais rápido. O trabalho por fora é mais mentalmente. Chega a uma certa altura em que o nosso cérebro está constantemente a tentar decorar textos e a preparar coisas para o dia seguinte, que acaba mesmo por ficar mais desenvolvido mas também cansado. Ter que preparar e decorar o texto é o que cansa mais. Normalmente grava-se de segunda a sexta-feira, mas por causa dos horários das crianças gravamos de terça a sábado. Precisamente porque no sábado os miúdos podem ir gravar e quando vão gravar durante a semana é sempre depois do horário escolar.
Teve de fazer alguma preparação específica para este papel?
Não. Para ser sincero não. As personagens estão muito bem definidas. Acho que isso se nota quando se vê a novela. Mas isso vê-se bem, a minha personagem não tem nada a ver com a do Teotónio, o Teotónio não tem nada a ver com o Sousa, o Sousa não tem nada a ver com o Matias. O trabalho ali era muito à base de haver uma boa ligação entre nós, de perceber que somos amigos mas não podíamos ser demasiado amigos como somos cá fora. Passou mais por pôr limites a nós próprios do que propriamente de preparação de personagem. Porque as personagens são pessoas normais.
O que é que acha que esta novela em específico pode trazer de novo aos espectadores que estão habituados a ver este tipo de produções?
O que eu acho que pode trazer é as pessoas gostarem da história. É uma história uma bocadinho diferente. Não é que seja uma coisa completamente nova. Acho que passa pela simplicidade e pela normalidade da novela. Acho que as pessoas vão sentir-se identificadas e verem situações pelas quais já passaram.
Como descreve o Jaime?
O Jaime é divertido. É uma pessoa que acima de tudo gosta muito dos filhos. Tem muito amor por eles. E depois está sempre no meio de duas mulheres. Ele ama a Camila, que é a atual mulher dele, mas tem sempre a chata da ex-mulher a dar-lhe na cabeça. E ele nunca consegue dizer não a nada e anda sempre a ouvir as queixas dos dois lados. Mas é bom pai, todas as personagens são e têm um grande amor pelos filhos. E as suas prioridades passam todas pelas crianças.
O Fernando mora no concelho do Seixal, certo? Na Verdizela. Como tem sido gravar tão perto de casa?
É um sonho. Isso é a melhor coisa que me podia ter calhado na vida. O estúdio é em Bucelas, é muito longe. Portanto o facto de poder gravar aqui ao lado é ótimo. Entro às 8h30 e acordo às 8h15. É só lavar os dentes e sair de casa. Por mim gravava sempre no Seixal. E ainda por cima gravamos muito na zona ribeirinha e esse sítio desenvolveu-se bastante. Há muitos anos costumava passar por esse local e agora está realmente diferente. É bom mostrar às pessoas outras zonas da Margem Sul, que é um ótimo sítio para se viver.
Sempre morou no Seixal? É mesmo de cá ou veio morar para cá?
Nasci em Lisboa mas vim para a Charneca da Caparica, para o 3º ano escolar, devia ter uns sete anos. Cresci na Margem Sul. Sinto mesmo que sou da Margem Sul e adoro morar deste lado. Não sou pessoa de cidade, sempre fui uma pessoa de ver os passarinhos e ter água ao pé. Não me importo de ter de fazer uns quilómetros a mais para poder ter essa paz e sossego. Fui morar para o Seixal há uns dez anos. Consegui comprar uma casa de madeira, que fui restaurando devagarinho, à medida que ia ganhando dinheiro, e nunca mais vou sair de lá.