“Eu sabia que desenhavas bem, mas este projeto de banda desenhada revelou que tens mesmo muito talento. Podes fazer o que quiseres da tua vida mas eu, como profissional desta área, aconselho-te a seguires as artes, porque não é qualquer um que consegue fazer o que tu apresentaste”.
Estas foram as palavras que mudaram a vida de Daniela Cabaço da Mata, 22 anos, para sempre. Nessa altura, estava no 7º. ano e nem se recorda do nome do professor, embora reconheça que foi este elogio que a levou a seguir uma carreira no mundo da ilustração e a conquistar o primeiro lugar na Mostra Nacional de Jovens Criadores 2023.
A jovem nasceu em Lisboa, mas sempre viveu na zona de Corroios. Começou por frequentar a primária na Quinta da Cabouca, seguindo-se o ensino básico na Escola de Vale de Milhaços. Já o ensino regular e o secundário foram feitos fora do concelho, na Escola de António Gedeão, em Almada, e na escola Rainha Dona Leonor, em Lisboa, onde estudou na vertente de Artes.
“A razão principal para ter ido estudar para Lisboa foram os meus pais, eles trabalham os dois lá, sempre tinha o transporte. Queria sair da minha zona de conforto e procurar melhores escolas e com mais reputação na vertente artística”, explica Daniela em entrevista à New in Seixal.
Seguiu-se a Licenciatura em Design Gráfico na Escola Superior de Artes e Design nas Caldas da Rainha, finalizada em 2022, e uma pós-graduação em Ilustração na Faculdade de Belas Artes em Lisboa, terminada em 2023. Por agora, o percurso académico está concluído e Daniela Mata tem-se focado, cada vez mais, na carreira profissional.
“Desde miúda que gosto de desenhar e pintar. A partir do 7.º/8.º ano comecei a dedicar-me muito nos trabalhos de EV e os professores incentivavam a seguir este caminho. Não me imagino com outra vida, ia sempre fazer isto”, confessa.
Menciona que os adolescentes pensam que o desenhar bem é “fazer um desenho realista”, mas não. Na altura, Daniela tentava fazer cumprir este estereótipo, desenhava paisagens, pessoas e animais. Mas, depois, começou a “encontrar o próprio estilo”, que “ainda não é algo definido”, já que está em constante mutação e evolução.
“Na faculdade foi realmente onde encontrei o meu traço e me dediquei à ilustração infantil, que não podia ser mais longe do realismo, mas é o que gosto de fazer. Sou filha única mas sempre vivi de uma forma muito chegada com os meus primos e o mais velho é dez anos mais novo que eu, sempre tive de adaptar a minha linguagem e ter uma sensibilidade diferente”, acrescenta.
Este ano, a ilustradora lançou um livro de autoria própria, chamado“Quando te Conheci”, tendo a ilustração e o texto sido feitos por Daniela Mata. A obra encontra-se à venda na livraria atlântico por 10€, ou em ebook por 5€.
Além deste trabalho, foi ilustradora do livro “A Brincadeira é Aqui e Agora!”, uma obra da autoria da escritora Sónia Gomes. Diz que já ilustrou outro livro, mas esse ainda é segredo.
Daniela trabalha no mundo digital e desenha num Ipad 12 pro em vários programas de software. Neste momento está a estagiar na Casa Nacional da Moeda em Design Gráfico e Ilustração na equipa de comunicação. Apesar de o estágio estar a acabar e o futuro ser incerto, a jovem quer continuar a trabalhar na área.
Um grande prémio para uma pequena história
Este ano, Daniela Mata, venceu a Mostra Nacional de Jovens Criadores, na categoria de Ilustração. Já tinha concorrido o ano passado, com o objetivo de divulgar o seu trabalho e talento.
“Todos os trabalhos estavam excelentes e lindos. Talvez o meu se tenha destacado por eu aliar as causas em que acredito ao meu projeto, neste caso, foram as alterações climáticas, o ano passado foi a proteção animal. Usar o meu trabalho, que é algo visto como mais infantil ou mais fofinho, para lutar por uma causa é uma junção pouco comum, porque o tema é visto como algo sério” desabafa.
Daniela explica que é necessário “mudar os meios” de como se comunica, a forma como ilustramos e escrevemos para os miúdos. “Temos de simplificar as coisas, por vezes, nós adultos, complicamos mais do que é necessário, o problema está lá, nós sabemos as causas e a soluções. Quando estamos a explicar estes assuntos a crianças não temos de lhes explicar de quem é a culpa ou apontar dedos, apenas temos de dizer o que está a acontecer e como podem ajudar para mitigar os efeitos, é uma questão de ser sinceros quanto ao problema”, afirma.
A obra vencedora é um álbum ilustrado com pouco texto, todo a preto e branco. Um miúdo que descobre, no meio de uma paisagem glaciar, uma caixa com um carrinho. Começa a brincar e vê um papel dentro da caixa. Curioso lê o papel e entende que brincar com carrinho tem muitas advertências ambientais, a poluição vai causar o degelo e os ursos polares vão começar a entrar em extinção, como exemplo. Ao ver os problemas, guarda o carrinho na caixa e vai adormecer junto a um urso polar e alguns peixes que se tornam amigos da personagem.
A Mostra Nacional Jovens Criadores, que decorreu entre 27 e 29 de outubro, em Vila do Conde, é o mais alargado programa de estímulo à criação artística em Portugal. Em mais de 25 anos de existência, esta iniciativa do Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ) já deu a conhecer diversos artistas que marcam o panorama cultural português.
Mais de 120 jovens, num total de 15 categorias, foram selecionados para apresentarem os seus trabalhos ao longo dos três dias da MNJC, que foi organizada pelo Gerador, plataforma portuguesa independente de jornalismo, cultura e educação. Os vencedores de cada área artística foram anunciados numa gala que teve lugar no último dia do evento. Daniela Mata, de 22 anos, venceu a categoria Ilustração, com a obra GLACIALIS.
Carregue na galeria e veja por si mesmo a pequena história e todo o talento visual que Daniela Mata tem para oferecer.
