Há quem nasça com o dom da música e há quem traga esse talento entranhado na alma. Aron, nome artístico de Manuel Ramos, tem apenas 19 anos e é uma das vozes mais promissoras do Seixal. Nasceu em Almada, mas vive no concelho vizinho, onde tem construído o seu percurso artístico.
Desde os três anos que dizia querer ser cantor e a verdade é que nunca sonhou com outra coisa. Cresceu rodeado de músicos, cantores e dançarinos, numa família onde a arte sempre teve lugar à mesa. O avô materno também deu o exemplo — chegou a ir à televisão, à RTP Memória, onde tocou clássicos da música cigana.
Os primeiros passos vieram de forma natural. O seu primeiro instrumento foi uma pequena viola, mas o fascínio por experimentar outros sons levou-o a aprender piano, cajón e até bateria. Lembra-se de quando o avô lhe ensinou as notas básicas num piano de brincar — a partir daí foi observando, praticando e aprendendo com músicos que via tocar na igreja.
Em casa, montou um pequeno estúdio no quarto, onde cria instrumentais e grava as suas canções. É ali, entre cabos, microfones e um computador, que o jovem dá forma às suas ideias. “Quando uma pessoa nasce para isto, tudo parece mais fácil”, costuma dizer. A criatividade flui naturalmente e o resultado é uma sonoridade que mistura o tradicional e o contemporâneo, sempre com alma.
A inspiração de Nininho Vaz Maia
A vontade de subir ao palco começou cedo. Ainda na escola, participou num concurso de talentos, que venceu com uma interpretação de “Hoje Tô Chateado”, de Nininho Vaz Maia, um dos seus maiores ídolos e fonte de inspiração.
Desde pequeno acompanhou o seu percurso, observando de perto o sucesso e o crescimento do cantor. O filho do artista chegou mesmo a enviar-lhe uma mensagem de felicitação depois da sua prestação no “The Voice Portugal”. Um gesto simples, mas que teve grande significado para o jovem músico.
Paralelamente à música, há outra paixão que o move: os carros. Vindo de uma família de comerciantes, aos 17 anos decidiu começar a trabalhar por conta própria. Aprendeu o ofício com o tio materno, que lhe ensinou a ver se um carro “está bom” e como negociar.
Aos poucos, foi comprando e vendendo, até abrir o próprio negócio de automóveis. Hoje, divide o tempo entre a música e a empresa, além de gerir uma página de venda de roupa online, ideia que surgiu com o incentivo do pai, ligado ao retalho. A paixão pelos carros e pela música convivem em harmonia — ambas exigem dedicação, paciência e uma boa dose de emoção.
A entrada no “The Voice Portugal” foi um ponto de viragem. O momento decisivo veio pelas mãos de Hernâni Gomes, a quem Aron chama de “tio emprestado”. Foi ele quem o inscreveu no programa, quase em segredo, acreditando que o mundo precisava de ouvir aquela voz. E tinha razão.
Nos castings, Aron apresentou uma canção espanhola e, mais tarde, “Como Antes”, de Matias Damásio. A segurança com que subiu ao palco chamou a atenção dos jurados, que lhe deram passagem à fase seguinte. Preparou então duas canções: “Oh Gente da Minha Terra” e “Canção do Mar”. A escolha não foi ao acaso — queria algo que mostrasse o seu lado mais emocional, sem deixar de ser autêntico.
Na prova cega, bastaram os primeiros acordes para Sara Correia virar a cadeira. Logo depois, Fernando Daniel e os Calema juntaram-se. O momento foi arrebatador: três cadeiras viradas, uma plateia rendida e a confirmação de que o seu talento é inegável. A escolha acabou por recair sobre Sara Correia, não só pela admiração que sente pela cantora, mas pela afinidade com a forma como vive a música — com alma, verdade e respeito pelas origens.
Fora do palco, Aron é descrito pelos pais como uma verdadeira “dor de cabeça”. Na realidade, é apenas um jovem divertido, simpático e empático, com uma energia contagiante. Gosta de ajudar, valoriza a humildade e acredita que o sucesso só faz sentido se for partilhado. Traz consigo valores familiares fortes, como a honestidade, simpatia e generosidade, que quer levar tanto para o programa, como para a vida.
Apesar da visibilidade repentina, mantém-se com os pés bem assentes na terra. Orgulha-se das suas raízes e não tem medo de as mostrar, mesmo sabendo que ainda há preconceitos. “Somos iguais aos outros”, costuma dizer, consciente do impacto que pode ter ao representar uma nova geração de artistas ciganos no panorama musical português.
O futuro promete. O “The Voice Portugal” é apenas o primeiro capítulo de uma história que parece estar só a começar. Aron sonha com colaborações que cruzem géneros e fronteiras, de um dueto com Sara Correia a uma parceria com artistas de flamenco. Quer levar a sua música o mais longe possível, mas sem nunca esquecer de onde vem.
Entre carros, melodias e sonhos, o jovem do Seixal mostra que é possível viver com um pé no asfalto e outro no palco. E talvez seja essa mistura improvável que o torna tão genuíno. Aron não é apenas uma voz bonita, é um símbolo de orgulho, determinação e herança cultural. Uma promessa que, com apenas 19 anos, já começa a fazer eco na nova música portuguesa. E vai poder acompanhar a sua jornada no “The Voice Portugal”, todos os domingos na RTP 1.


LET'S ROCK







