Natacha Bernardo Gomes da Silva Carvalho sempre se guiou por crenças e lemas muitos fortes. Considera que, se é para abraçar um projeto, terá de ser a 100 por cento, acompanhado de um espírito aventureiro e alguma ousadia.
Natural de Luanda, Angola, passou lá toda a infância. Com mãe alentejana e pai angolano, mas com descendência portuguesa, costumava vir a Portugal passar férias. Quando terminou a escola, devido à falta de oportunidades e às dificuldades sentidas no seu país natal, decidiu vir definitivamente para Portugal, com o intuito de continuar a estudar.
Assim, entrou no curso de Direito da Universidade de Lisboa, em 1995, mas não chegou a terminá-lo. Enquanto estudava, recebeu um convite para trabalhar na banca, no BCP. Aceitou e exerceu funções durante dez anos como comercial na zona de Cascais.
Depois de sair do ramo, começou a desenvolver a sua veia empreendedora, transmitida pelos pais. Em 2009, abriu o seu primeiro negócio, o estúdio de fotografia “Petite Étoile”. Primeiro na Amora e, depois, numa segunda fase, em Paio Pires.
“Já era difícil manter o negócio com uma filha. Quando nasceu a segunda, tornou-se impossível manter o estúdio de fotografia porque, apesar de tudo, a família continua a ser a minha primeira prioridade”, revela à New in Seixal.
O sushi surge na vida de Natacha em 2011, quando Gilson Pontes, um chef de sushi de Carcavelos, a convidou para criar uma sociedade e abrir um restaurante dedicado a esta especialidade no Seixal. Com o intuito de se preparar para o novo cargo, Natacha realizou alguns workshops.
Juntos abriram o MaiKai. Em 2015, decidiu vender a sua parte das cotas e sair do projeto. Criou a marca J’Adore e começou a fazer sushi em casa. “O conceito era simples: fazia sushi take-away e fazia de sushi woman na casa de alguns clientes com cozinha ao vivo. O nome nada tem a ver com um gosto especial por França, apesar de estar casada com um francês, mas sim pelo sentimento da palavra. É intensa e, quando gostamos mesmo de algo não dizemos que gostamos, mas que adoramos”, explica.
O nome também vinha escrito na caixa onde eram servidas as peças de sushi, que tinha apenas a palavra J’Adore, ou seja, não se conseguia ver o conteúdo da caixa. Numa altura em que o sushi ainda não estava muito na moda, era uma surpresa que todos acabavam, exatamente, por adorar.
Em 2019, quando começou a pandemia de Covid-19, Natacha fez uma pausa para recarregar baterias. Nesse momento, interessou-se por uma loja com um espaço em bruto, na zona da Quinta da Trindade.
A ideia era abrir um espaço físico de sushi. Tal como costuma fazer, atirou-se de cabeça. Fez uma formação na ACCP, na escola da cidade de Tokyo, a capital do Japão, a Tokyo College of Sushi and Washoku.
A responsável concluiu a formação com Miguel Bértolo, chef que alcançou o segundo lugar no World Sushi Cup em 2017, e ganhou um certificado do governo japonês como sushi woman. “Não foi um caminho fácil, até porque na cultura japonesa a mulher não faz sushi. Dizem que é por causa da nossa temperatura corporal, mas ouvia sempre comentários a dizer que estava tudo ao contrário, já que era mulher e, pior ainda, era canhota”, revela.
Já com um certificado de excelência, aos 47 anos, Natacha abriu o J’Adore no dia 6 de agosto, o novo espaço de sushi da Quinta da Trindade. O conceito é de take-away. A empreendedora prepara várias caixas que ficam em exposição ou então faz conjuntos personalizados, caso prefira. Além disso, está disponível uma experiência gastronómica de 70€ por pessoa, com apenas quatro assentos ao balcão, onde realiza uma viagem pelos melhores sabores orientais, confecionados ao vivo.
A New in Seixal visitou o espaço e provou algumas das especialidades da carta. Começámos por experimentar as gyozas de frango e legumes, que vêm de um fornecedor. Apesar deste detalhe, o que faz a diferença é feito no restaurante, um molho delicioso de trufa que acompanha estas entradas.
Depois, entrámos no campo do sushi e entendemos logo o valor do selo do governo japonês. O arroz é divinal, está cozinhado no ponto certo, com os temperos perfeitos e uma textura irresistível, além de que a frescura do peixe é inquestionável.
Provámos o sashimi j’adore (16€ — 4 unidades), uma combinação de salmão e ebi com tomate seco, tobiko, queijo creme e cebolinho, e o j’adore roll (16,50€ — 8 unidades), com arroz, nori, tempura de camarão, pepino, maionese, salmão baseado e teriyaki. Ambos são criações originais de Natacha.
Carregue na galeria e fique a conhecer todos os detalhes do espaço.